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da Redação DiárioZonaNorte

Brunch na Catedral da Sé entrou para a cena cultural da cidade de São Paulo ao proporcionar uma experiência que une alta gastronomia e arte. O brunch transcende o ato de “sentar e comer”, já que a Catedral não é um restaurante.

É algo muito maior e nobre. É um projeto que angaria fundos para a conservação e manutenção do patrimônio histórico da Catedral e auxilia o trabalho desenvolvido pela Missão Belém -movimento idealizado em 2005, pela Arquidiocese de São Paulo, que atende pessoas em situação de rua e mantém 180 núcleos na cidade (veja a matéria aqui).

Sé Brunch
João Marcos, Chef Gil Gondim, padre Baronto e Roseli Cáceres

Brunch na Catedral da Sé acontece em três edições mensais (cada uma com menus diferentes), exceto no mês de março, em respeito a Quaresma – período litúrgico da Igreja Católica, que antecede a Páscoa. O evento tem início com uma missa às 12h aos sábados e às 11h aos domingos, logo após, os convidados são recepcionados nos salões superiores da Catedral. Após o brunch, os convidados participam por um tour guiado nas dependências da igreja – restritos ao público (leia a matéria completa aqui)

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Chef Gil Gondim

O menu  tem a assinatura da chef Gil Gondim – voluntária no projeto. Titular da Casa Gil Gondim Gastronomia, a chef é uma das banqueteras mais requisitadas da cidade. Sua cozinha é de afeto, com influência italiana, onde sabores e aromas nutrem o corpo e o espírito.

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Gondim é autora do livro Conservas do Meu Brasil, publicado pela Editora Senac SP. A obra retrata a biodiversidade do país,  por meio das receitas da Chef . A importância da livro é tamanha que, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) escolheu a obra para representar o Brasil nas feiras internacionais do livro de Milão e Medellín.

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Viva São Benedito

Se a gula é um pecado, no Brunch da Catedral da Sé ele é perdoado, já que a causa é nobre.  O farto buffet contempla a alta gastronomia. Composto por mais de vinte opções de pratos – divididos em estações frias e quentes, incluindo carnes, massas, saladas, tábuas de queijo e charcutaria, sobremesas, sucos, refrigerante, vinho e espumante, para degustar rezando…. Que nos perdoem Nossa Senhora Assunção São Paulo – donos da casa – viva São Benedito, o santo padroeiro das cozinheiras e cozinheiros.

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Vitrais coloridos iluminam a belíssima mesa posta

O espaço é lindo, com um pé direito alto, paredes brancas recebem luz por meio de vitrais coloridos. Ali, o órgão da igreja espera por reparos há mais de 20 anos. Flores e mesas impecavelmente postas, completam o cenário.

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Fernando Meli (voz e acordeon) e Pedro Andrade (violino)

Durante o brunch, Pedro Andrade (violino) e Fernando Meli (voz e acordeon) e também o padre Baronto (acordeon) – encantam  Um violinista caminha por entre as mesas, enquanto garçons servem bebidas ao público.

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Órgão quebrado há 20 anos, cujo valor de restauro gira em torno de R$ 9 milhões. Há dois anos a Catedral tenta reunir recursos para o serviço.
Quanto custa e por que custa

Tudo é servido à vontade, pelo valor por pessoa de R$ 375,00.  Deste valor cobrado pelo brunch completo e tour na Catedral da Sé, aproximadamente  R$ 200,00 cobrem alguns dos custos com o evento, como pagamento de ajudantes de cozinha, locação de louças e utensílios e serviço de garçom.

O lucro de R$ 175,00 é revertido para a igreja e para a distribuição de 2ª à 6ª feira, de marmitas preparadas por 11 funcionários da equipe da Chef Gil Gondim– destinada aos atendidos pela Missão Belém.

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Quem é do meio gastronômico tem a percepção imediata que este valor é uma fração do custo real para um evento deste porte, mesmo que seja inacessível para uma grande parcela da população, levando em conta a experiência  que o Brunch e o Tour oferecem, a qualidade da gastronomia oferecida, o número de pessoas envolvidas, o serviço impecável…

Chegar a este valor só foi possível, por meio do apoio de várias empresas que apoiam a causa da Catedral da Sé – que quando não entram com doação, fornecem os insumos a preço de custo.

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Maurício Benassatto (DiárioZonaNorte), Elizabete Almeida (Anagrama Comunicações e Eventos) e Renato Lutgens (Casa Flora Importadora)

Casa Flora Importadora colabora com o projeto, fornecendo os espumantes e os vinhos – rótulos da Vinícola Santa Carolina– servidos no Brunch, além de disponibilizar o trabalho do experiente sommelier Renato Lutgens no serviço.

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Vinho Santa Carolina Estelar, que chega ao Brasil pelas mãos da Casa Flora Importadora

“A Casa Flora está feliz em participar de um projeto que se dedica a preservação desse monumento histórico da cidade de São Paulo. A Catedral da Sé é um ponto importante para compreendermos a história da nossa cidade.” diz Adilson Carvalhal Junior – diretor da Casa Flora Importadora.

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As contas não fechavam

Se hoje os 190 lugares para cada um dos dias em que o Brunch da Catedral da Sé é realizado, se esgotam rapidamente, não era esta a situação em 2017 – quando começou. “Era o mês de dezembro… Na época a Catedral da Sé não conseguia fechar suas contas e não tinha dinheiro para pagar o 13º dos vinte e um funcionários da igreja. Por ser um imóvel tombado, a manutenção da Catedral é caríssima“, conta Roseli Cáceres – diretora voluntária da Associação Amigos da Catedral Metropolitana de São Paulo e idealizadora do projeto.

Sé

Como o entorno da igreja é majoritariamente formado por comércios, com pouquíssimas residências, a Catedral da Sé acaba sendo uma igreja de passagem, frequentada por turistas ou por quem vai ao Centro da Cidade resolver algum problema. Assim, não tem muitos fiéis para fazer doações. A grande capacidade de público da Catedral (cerca de 800 pessoas sentadas), fontes de recurso como casamentos e batizados, são raras.  E, a única ajuda da Prefeitura de São Paulo é a isenção do IPTU.

Vista da Praça da Sé, do alto da Catedral – no fundo, o prédio amarelo da Missão Belém

Antes do início do serviço de brunch, o padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto cura da Catedral da Sé,  explica a finalidade do projeto. Tomamos o cuidado de transcrever a íntegra da fala do religioso, dada a importância do projeto e por ser uma reflexão sobre solidariedade, que vai além da indignação e passa para a ação:

Eu queria uma palavrinha muito breve, mas não se preocupem, porque o sermão eu já fiz lá embaixo…  É muito mais para agradecer a vocês por estarem participando deste projeto  e explicar que vocês não vieram a um restaurante, mas vocês vieram para participar de um projeto. O  Brunch na Catedral tem um sentido de existir. Eu queria dizer pra vocês pra onde vai a verba do ingresso que vocês pagaram…   Uma parte, evidentemente, vai para os insumos que usamos no Brunch. Nem tudo é doação. Nós temos importantes parceiros que nos ajudam, mas nem tudo é de  graça.  A segunda parte do ingresso é para a manutenção da Catedral. Ela é um cartão postal da cidade… Vejam como ela está limpa, iluminada…. música de qualidade… tudo isso tem custo.” diz o padre Baronto.

Gil Gondim, Padre Baronto, Fernando Meli e Renato Lutgens

Continua ele:  “As igrejas no centro da cidade têm muita dificuldade de se manter. É diferente de uma paróquia no bairro, o onde os fiéis vão todos os domingos. Quando tem uma necessidade, fazem um bingo… uma quermesse.  Aqui,  não tem condições de fazer uma  quermesse na praça….  Então sobrava pra gente fazer como outras Catedrais do mundo já fazem…  Algumas museus que sustentam a catedral. E nós, então criamos uma parte cultural da Catedral, como o Brunch na Catedral, que graças a Deus, hoje me ajuda a pagar a folha de pagamento.  Nós temos um concerto à luz de velas, que tem a versão agora na Cripta da Catedral. Nós temos os Concertos da Cripta, que acontecem aos sábados, gratuitos pela Lei Rouanet, que também estão acontecendo…  E tudo isso depois se reverte em favor da Catedral.

Missão Belém
Dormitório dos “vozinhos” – que recebem cuidados 24 horas por dia – Casa Guadalupe, um dos núcleos da Missão Belém

A terceira finalidade do ingresso é porque nós somos a Igreja Católica em São Paulo e nós temos um projeto… ligado a Missão Belém, o projeto Vida Nova.  Um prédio de 11 andares que nós temos aqui na Praça da Sé.. um prédio amarelo… onde atendemos por mês 1.500 irmãos, que estão em situação vulnerável… estão nas ruas.  Os nossos missionários vão às calçadas da cidade, acolhem essas pessoas… Entram na Cracolândia e fazem um convite pra quem quiser vir e trazem aqui, para essa casa. Durante alguns dias eles recebem roupa nova, se alimentam , fazem exames, recebem  dedicação, afeto, abraços e uma família… Porque nem tudo se resolve com remédio. Tem coisas que são feridas no coração e só um abraço da família consegue sarar. Então eles recebem tudo isso e depois são enviados para os 180 núcleos de recuperação de álcool e drogas,  que nós temos na cidade“, diz o padre Baronto.

Missionário da Missão Belém, aborda pessoa em situação de vulnerabilidade. crédito da foto: Missão Belém

Então vocês imaginem para manter estas 1.500 pessoas por mês ali, a despesa… Mas nós não entendemos como despesa. Nós entendemos que é algo de responsabilidade nossa, não só do governo. Então nós estamos lá com eles, fornecemos as marmitas, compramos os mantimentos, as roupas, e é por isso que vocês estão aqui.  Vocês estão participando desse projeto hoje.  E,  hoje à noite,  eles vão jantar a mesma comida que vocês vão almoçar agora. A mesma… E não é o que vai sobrar… Nós já fizemos na quantidade necessária para que eles jantem sem haver diferença do que vocês vão comer agora.  Então saibam que no ingresso de vocês também está o jantar deles hoje à noite. A mesma comida, com a mesma qualidade,  feita aqui pela nossa chefe de cozinha, que aqui com sua equipe, são parceiros desse projeto, juntamente com outras empresas que nos ajudam. A Marta Rovella, que cuida da nossa comunicação.. tantas outras empresas que nos ajudam.. A Casa Flora Importadora que nos dá o vinho maravilhoso que vocês estão provando. São parceiros nossos… E a Gil, que faz o buffet aqui e cozinha para essas pessoas, com um detalhe:  ela é evangélica. Quando ela viu a necessidade da missão, ela estendeu a mão e disse “padre, eu vou ajudar o senhor”. E hoje é uma evangélica, que ajuda a sustentar o maior templo católico de São Paulo. É um evangélico que ajuda a sustentar essas pessoas.. a cuidar destas pessoas que estão pelas ruas.” conclui o padre Baronto.

Gil Gondim, Padre Baronto e Fernando Meli
Absolvição do pecado

Padre Baronto passa a palavra para a Chef Gil Gondim e brinca que ela, é a responsável pelo pecado da gula que os convidados cometerão.

Estou feliz por vocês estarem aqui hoje, participando deste projeto conosco. Desejamos uma experiencia agradável e que vocês possam viver intensamente essa experiência. O que eu quero dizer é que este projeto da Missão Belém, restaura vidas: 32% dos acolhidos pela Missão Belém tem suas vidas restauradas. Como diz o Padre Baronto, nós não só alimentamos o corpo, acima de tudo alimentamos a alma destas pessoas.  E a absolvição do pecado da gula, são os 280 degraus para vocês alcançarem a torre“.

Torres da Catedral
Como colaborar

Mesmo não participando do Brunch na Catedral da Sé, você pode colaborar com as marmitas para a Missão Belém, doando o que puder por meio do Pix: CNPJ 36.488.480/0001-29

E, se você for empresário, pode trazer sua empresa para apoiar o Brunch. Entre em contato pelo WhatsApp (11) 98496-9702

DiárioZonaNorte participou do Brunch na  Catedral a convite de Casa Flora Importadora e Anagrama Comunicações e Eventos.

Para finalizar, seguem as empresas que apoiam o projeto:

Serviço: 
Brunch na Catedral da Sé
  • Para datas e reservas, clique aqui
  • Instagram:  @brunchnacatedral
  • Serviço de Valet nos fundos da Catedral – Praça João Mendes R$ 40,00

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