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Documentário discute a obrigatoriedade de conduzir a gravidez ‘incompatível com a vida’

Tempo de Leitura: 3 minutos

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por Aguinaldo Gabarrão (*)

Um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher, se não for o principal, é poder gerar um filho, trazê-lo ao mundo para crescer e ajudá-lo a tornar-se uma pessoa livre e independente.

O que vem por consequência é imaginar os primeiros passos, o aprendizado escolar, os aniversários, viagens, o futuro profissional e tantas outras possibilidades.

Porém, quando um exame pré-natal indica no desenvolvimento do feto, a incompatibilidade com a vida após o nascimento, o sonho da maternidade assume dimensão devastadora para o núcleo familiar.

Algumas mulheres se veem diante do terrível dilema: se a gravidez seguir, o feto pode morrer durante a gestação. Nascendo, pode sobreviver, mas apresentará malformação em vários órgãos. No entanto, se ela quiser abortar, não encontrará respaldo jurídico nas leis brasileiras.

documentárioNa própria pele

Essa experiência, vivenciada pela diretora e roteirista Eliza Capai – ela só conseguiu interromper a gravidez em Portugal –, é trazida em seu relato contundente e de outras mulheres.

No entanto, o documentário Incompatível com a Vida (qualificado Oscar 2024), abre caminhos para outros entendimentos, igualmente difíceis para o casal, e especialmente cruel para a mulher.

As leis brasileiras consideram o aborto apenas em três situações: estupro, risco de vida para a mãe e anencefalia fetal. Diante do diagnóstico médico de “incompatibilidade para a vida”, não resta a mulher brasileira outra alternativa que não seja seguir até o final com a gravidez.

O documentário não se perde em discussões intermináveis de ordem jurídica ou mesmo religiosa. É na busca dos fatos e no entendimento dos sentimentos que estão em jogo, a aposta de Capai, ao mostrar ao público os dilemas femininos: o sentimento de culpa em não gerar um feto saudável; a obrigação de seguir com a gravidez e, finalmente, o desamparo psicológico do núcleo familiar.

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A câmera e os sonhos de uma mãe

Parte do documentário é estruturado com vídeos da gravidez da diretora. São registros que vão desde o deslumbramento pela barriga que cresce até os momentos mais difíceis com as decisões dolorosas que ela e o marido precisam tomar.

E a sensação de dor e medo, se amplifica na sequência do mar aberto, símbolo de fecundidade e vida, no qual ela mergulha e, absorvida pelo silêncio, grita sem ser escutada. É sua manifestação mais humana e completamente solitária.

Mas Capai não se deteve em seu drama pessoal. Ela reúne os depoimentos de outras mulheres, menos pelo registro meramente factual que pontua a dor em suas múltiplas facetas, mas principalmente pela potência das vozes que assumem seus lugares de fala, para trazer publicamente a discussão sobre as leis e políticas públicas de saúde, ambas desconectadas da realidade do universo feminino.


Assista ao trailer clicando abaixo:


Serviço

INCOMPATÍVEL COM A VIDA

  • Gênero: Documentário
  • País: Brasil
  • Classificação:  14 anos
  • Duração:  1 horas 32 minutos
  • Ano: 2023

Direção e Roteiro: Eliza Capai / Direção de Fotografia: Janice D’avila / Direção de Fotografia (gravidez da diretora): Eliza Capai, João Pina / Produção: Mariana Genescá, tva2.doc / Trilha Sonora: Decio7 com participação especial de Juçara Marçal / Montagem: Daniel Grinspum / Distribuidora: Descoloniza Filmes / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação


Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo e de projetos. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.

 

 


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Nota da Redação == (*)  O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor e colaborador, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.


 

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