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Crônica do Cotidiano: O mito do Golem

Tempo de Leitura: 3 minutos

golem

por Rafic Ayoub  (*)

<< Crônica 4 >> === Na mitologia judaica, o Golem (imagem acima) é um ser feito de barro  criado  por rabinos iniciados nos mistérios esotéricos da cabala,  que através da magia  ganha vida para atender a vontade e as ordens de seu criador. Dotado de uma força descomunal, o ritual de sua criação é realizado desde o século 16, seguindo os ensinamentos descritos no livro sagrado Sefer Yetzirah, o “  Livro da Criação”.

Segundo esse livro sagrado, antes de começar a desenvolver um Golem, o rabino seleciona as características que gostaria que ele tivesse e com base nelas, ele escolhe um símbolo ou selo que vai representá-lo. Na maioria das vezes, a palavra escolhida era “EMET”, que em hebraico significa “Vida “ e que na sequência,  é  desenhada em seu peito ou em sua testa.

Esse símbolo ou selo  desenhado em sua testa ou peito é importante por estabelecer uma relação direta dele com algum anjo ou demônio que vai determinar a sua personalidade, para o bem ou para o mal.

Definido o símbolo ou selo , o criador vai até um cemitério onde recolhe terra num buraco bem abaixo da superfície e, na sequência, mistura essa terra com água e o sangue de um cordeiro sacrificado e, assim, a massa resultante começa a ganhar forma sozinha..

O ritual se completa quando o criador desenha  um círculo de giz em torno  da criatura e a invoca para ganhar vida, após o que, os dois  negociam por quanto tempo o Golem vai obedecer ao seu criador.

E quando o período de vida do Golem  se esgota, o criador recita uma oração e, molhando os dedos na água, apaga o símbolo desenhado em seu peito ou testa, que faz com que ele perca todos seus movimentos e o arrastando para um local de água corrente, começa a tirar lentamente pedaços do barro que formam o seu corpo gigante.

De acordo com a tradição judaica, o primeiro rabino a tentar criar um Golem foi o polonês Judah Loew ben Bezalel,  no século 16, ao fazer uma criatura de barro para defender a população judia que vivia no gueto de Praga, na Tchecoslováquia.

Durante o dia, o rabino o escondia no sótão de uma sinagoga, porém,  passado o tempo, o Golem cresceu e, incontrolável,  tornou-se violento e começou a ameaçar a vida das pessoas e a espalhar o medo junto à população.

Preocupado com possibilidade de perder em definitivo o controle sobre a criatura que criou, o rabino Judah decidiu destruí-lo, apagando a primeira letra da palavra  EMET  (Vida) desenhada em seu peito,  resultando na palavra MET, que significa morto em hebraico e o destruiu.

O comparativo com a realidade

Diante dessa mística  narrativa da tradição judaica,  confesso que não consigo  deixar de estabelecer uma incrível semelhança entre ela e a folclórica narrativa do mito Jair Bolsonaro no imaginário de significativa  parcela de  brasileiros  alienados  de sua  própria condição e realidade  marcada, principalmente,  por contínuas denúncias de corrupção, altos níveis de desemprego, inflação, alto custo de vida, de combustíveis, falta de educação, saúde e bem-estar social e econômico.

Como um verdadeiro Golem tropical, Bolsonaro foi “criado” por cerca de 56% dos eleitores brasileiros nas eleições de 2018 na esperança de que ele os protegesse da “ameaça petista” e  resgatasse e restabelecesse os padrões virtuosos no trato da coisa pública. Porém,  para a decepção da grande maioria do povo brasileiro, ele vem se consagrando  cada vez mais como o pior presidente da história desde a instauração da República no País.

E, o mais grave,  a exemplo do Golem de Praga criado pelo rabino Judah Loew ben Bezalel, o nosso Golem de Brasília, Jair Bolsonaro, traiu e continua traindo sistematicamente  o contrato firmado com seus milhares de eleitores que nele confiaram seus votos e, rompendo todos limites, vem governando descontrolado  em seus três anos e meio de seu mandato, com o objetivo obsessivo de destruir a todo custo o próprio  sistema democrático que o acolheu,  elegeu e mantém até  hoje.

Para a sorte e felicidade geral da nação, o  símbolo ou selo  capaz de destruí-lo  e  já desenhado no peito desse lamentável Golem brasileiro chama-se VOTO , que poderá ser  expresso e exercido com todo seu significado  e intenção nas próximas eleições presidenciais em outubro de 2022.

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(*)  Rafic Ayoub, jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e pós-graduação em Mídia, Política e Sociedade pela FESPSP – Faculdade Escola de Sociologia Política de São Paulo, é também poeta, dramaturgo e autor do recém-lançado livro  “ Miserere Nobis – Crônicas do Cotidiano”.

Atualmente é consultor especializado em Comunicação Corporativa Integrada.


Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.

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