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“Marte UM” estreia nas telonas do Brasil com história cativante e belas interpretações

Tempo de Leitura: 4 minutos

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<< Crítica/Cinema>> === por Aguinaldo Gabarrão (*)

Qual é o limite para sonhar? Há sonhos absolutamente impossíveis ou devemos acreditar em nossa intuição e lutar para realizá-los? Esses questionamentos comuns às pessoas, independentemente de qualquer variável – sexo, cor, classe social – são algumas das provocações que o filme MARTE UM faz ao público no percurso de sua história.

Ganhador de quatro prêmios no Festival de Gramado: Melhor Filme pelo Juri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Musical e Prêmio Especial do Júri. O filme faturou ainda prêmios internacionais, ganhando na categoria de Melhor Longa no OutFest, no Black Star e no San Francisco Film Festival.

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Sonho e Paixão

Os Martins, família negra de classe média baixa, lutam pela sobrevivência entre sonhos e dilemas. Tércia, a mãe, após um incidente tem crises de angústia e acredita que foi amaldiçoada pelo destino. A filha do casal, Eunice, ao se apaixonar por uma jovem, deseja sair de casa. O pai, Wellington, coloca todas as esperanças no filho Deivinho, como jogador de futebol. Mas o adolescente quer estudar astrofísica e colonizar Marte. E para cada conflito, eles precisarão tomar decisões difíceis.

O roteiro de Gabriel Martins trata com rara delicadeza o tema do sonho, elemento da paixão que move as ações humanas. Na trama realista, a expectativa de cada personagem para realizar o seu objetivo impulsiona as ações na história, habilmente amarradas no contrapeso das emoções: o pai deseja que o filho se torne jogador de futebol, porque isso trará melhores condições financeiras para a família, mas se opõe ao sonho do filho que se apaixona pela ideia de futuramente povoar o planeta Marte. O que é certo? O pragmatismo do pai ou a pulsão do filho?

E o destino, esse conjunto de forças externas que determinariam as ações humanas, também é matéria com a qual Martins provoca reflexões.  Tércia a mãe, ao ver os familiares envolvidos em situações conflituosas que geram a possibilidade da ruptura, passa a acreditar que está atraindo “coisas ruins” para o núcleo familiar. Ironicamente, esse fatalismo é colocado em outra perspectiva, ao salvar sua vida e oferecer a ela a possibilidade de recompor-se interiormente.

Por sua vez a cumplicidade e competência do bom elenco – menção especial a dupla Rejane Faria (Tércia) e Carlos Francisco (Wellington) – brindam o público com interpretações vigorosas, impregnadas da mais pura e verdadeira emoção.

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“A gente vai resistir e fazer o cinema brasileiro ser muito lindo!”

Gabriel Martins, diretor, roteirista e produtor de cinema é mineiro, nasceu na cidade de Contagem, tem 34 anos e é sócio fundador da produtora Filmes de Plástico. O filme MARTE UM é seu primeiro longa-metragem solo. Anteriormente Martins dirigiu em parceria com Maurílio Martins o filme “No Coração do Mundo”.

Martins respondeu às perguntas previamente encaminhadas pelo DiárioZonaNorte. Leia abaixo os principais trechos de suas respostas.

As filmagens foram iniciadas em 2018, no período efervescente da campanha eleitoral para Presidente da República e o maior desafio para o diretor e equipe de produção foi manter o filme “vivo”, diante de um orçamento modesto para um roteiro ambicioso, com muitas locações e cenários.

Ao ser perguntado se a personagem Deivid, o adolescente que deseja ser astrofísico, seria seu alter ego, Martins confirma dizendo: “é, de alguma forma, um pouco eu quando era criança que sonhava muito fazer cinema, mesmo sendo um sonho muito distante”, e pondera: “mas também (representa) um desejo que garotos negros e meninas negras, jovens como “Deivinho”, possam ter sonhos de qualquer esfera, sonhos gigantes, inimagináveis.”

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Gabriel Martins, diretor, roteirista e produtor de cinema

Em seu processo criativo, Martins procura envolver seus atores com uma dose grande de afetividade e sentimento familiar, daí resulta na cumplicidade do elenco e na qualidade das interpretações. E afirma: “Eu gosto de botar pessoas interessantes na tela, pessoas que eu gostaria de ser amigo. Pessoas que eu gostaria de conversar.”

Quanto aos desafios do Brasil atual, o jovem diretor é esperançoso e firme em sua visão do atual cenário do país: “Mesmo diante de um governo fascista e muito agressivo com a cultura e a arte, eu sinto que os artistas estão começando a tentar dar mais respostas à altura” e justifica a sua fala com um exemplo: “… (no Brasil) tem uma produção pulsante de curtas, tem um cinema vivo, que está sobrevivendo a duras penas, mas com muita integridade e com muita força”.

E diante das desigualdades do país, Martins é um otimista com os pés no chão: “… eu fico muito empolgado de ver o futuro, de ver que tem mais pessoas pretas fazendo cinema no Brasil, mais pessoas LGBTQIA+, mais mulheres, mais indígenas”. E finaliza: “… mesmo diante de um universo que estamos desfavorecidos em políticas públicas, a gente vai resistir e vai conseguir fazer o cinema brasileiro ser muito lindo!”


Serviço:

MARTE UM

  • Gênero: Drama
  • País: Brasil
  • Classificação: 16 anos /
  • Duração:  1 hora e 24 minutos
  • Ano: 2022
Ficha técnica
  • Elenco: Rejane Faria, Carlos Francisco, Camilla Damião, Cícero Lucas, Ana Hilário, Russo APR, Dircinha Macedo, Tokinho e Juan Pablo Sorrin
  • Direção e Roteiro: Gabriel Martins
  • Som: Tiago Bello e Marcos Lopes
  • Direção de Fotografia: Leonardo Feliciano
  • Desenho de Produção: Rimenna Procópio
  • Figurino: Marina Sandim
  • Montagem: Gabriel Martins e Thiago Ricarte
  • Música: Daniel Simitan
  • Produção: André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurilio Martins e Thiago Macêdo Correia
  • Coprodução: Canal Brasil
  • Distribuição: Embaúba Filmes
  • Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação

 

Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do Diário Zona Norte.

 


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