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Crônicas do cotidiano: The Real You is Sexy

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Tempo de Leitura: 3 minutos

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por Rafic Ayoub (*)


<< Crônica 11 >> === Talvez como um reflexo inconsciente da perda da perfeição no instante preciso e ancestral da queda do Paraíso, o culto da imagem tem sido uma constante na vida de homens e mulheres. Desde então, através dos séculos, a humanidade tem desenvolvido um esforço absurdo e permanente para a descoberta da eterna fonte da juventude e, assim, frear definitivamente o relógio implacável do tempo, esse verdadeiro escultor de ruínas!

A busca crescente e frenética da imortalidade, parece evidenciar nos dias de hoje a certeza de que o segredo da transcendência resume-se ao aqui e agora. E assim, a inquietude que deveria idealmente ser canalizada para o campo espiritual, está cada vez mais voltada para satisfazer as difusas e insaciáveis carências do ego e da vaidade, orientada pela crença enganosa de que “a grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa”.

É por isso que ninguém está feliz e/ou satisfeito consigo mesmo, sempre achando que lhe falta alguma coisa que não consegue precisar exatamente, apenas a certeza incontida de que esse algo fora do lugar pode e deve ser corrigido para melhor!

E é exatamente nesse momento que se verifica o verdadeiro festival de horrores patrocinado pela vaidade humana: quer os peitos fartos e fakes da Naomi Campbell  ou a Bündchen bundinha da Gisele?

Sem problema, açougueiros fantasiados de deuses com seus jalecos brancos e diáfanos realizam seu sonho pela quantia módica de apenas trinta dinheiros! Quer se livrar daquelas gordurinhas localizadas nos quadris, na barriga ou no bumbum? Fácil, basta se submeter ao dantesco processo de sucção através das vampirescas canaletas introduzidas invasivamente em todas as partes de seu corpo e, voilá, o resultado levaria até a fofa Vênus de Milo, a gostosa do Olimpo, a cometer o eficiente “hara-kiri”!

Na realidade, em meio a toda confusão de valores e referências de certo e errado, de leituras novas e de equívocos tão antigos que permeiam a sociedade moderna, há quem  ( infelizmente, milhões! ) goste dessa possibilidade que violenta e transforma nossa essência original. Mas até quando essa nova ética perpetuará a crescente fábrica de “franksteins” que trafegam leves, livres, soltos e provisoriamente impunes pelas inflexíveis leis cronológicas?

A violação de nossa natureza original certamente jamais fica impune, ainda que signifique transformar sapo em príncipe ou bruxas feias e verruguentas em belas princesas, pois por trás da falsa nova fachada, nós verdadeiramente sabemos de nossa identidade original.

Não é por acaso que após esse tipo de intervenção, grande parte dos pacientes são encaminhados para os divãs dos analistas para tratamento dos inevitáveis conflitos gerados.

Evidentemente, não estou eu aqui propondo nenhum tipo de radicalismo xiita e nem desqualificando a especialidade médica voltada para a chamada cirurgia plástica. Afinal de contas, ninguém está isento de acidentes que, por fatalidade ou destino, justificam tais procedimentos para o resgate daquilo que se perdeu e/ou foi inexoravelmente violentado em nosso corpo.

A intenção é apenas reafirmar uma verdade que tem sido sistematicamente negada por homens e mulheres contemporâneos, de que cada um de nós, cada qual à sua forma e maneira, é único e belo e absolutamente orgulhoso e ciente de sua condição original à imagem e semelhança de Deus!

Todo esse proselitismo anterior tem como objetivo emoldurar a criativa e muito original campanha publicitária de uma marca de lingerie norte-americana, chamada “Aeris”, contestando a necessidade de utilização das modelos assexuadas e anoréxicas impostas pela nova estética dos templos de consumo da alta costura.

Em suas peças publicitárias simples e ao mesmo tempo provocativas, ousadas e altamente provocantes, a fabricante, contrariando a lógica de mercado, utiliza como modelos mulheres literalmente de carne e osso, absolutamente normais, com estrias, celulites, barriguinhas e bumbuns rigorosamente reais e sem qualquer ajuda de photoshops, apoiadas apenas por um apelo curto e grosso que encerra uma verdade definitiva e uma inspiração certamente divina: “ THE REAL YOU IS SEX” (Você  Real  é Sensual!).

Além de incensar tanta criatividade, eu compartilho totalmente essa verdade!


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(*)  Rafic Ayoub, jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e pós-graduação em Mídia, Política e Sociedade pela FESPSP – Faculdade Escola de Sociologia Política de São Paulo, é também poeta, dramaturgo e autor do recém-lançado livro  “ Miserere Nobis – Crônicas do Cotidiano”Atualmente é consultor especializado em Comunicação Corporativa Integrada.


Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.

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