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Crônica do cotidiano: O Brasil e a síndrome de Maria Antonieta, com olhos nas eleições 

Maria antonieta
Tempo de Leitura: 3 minutos

Maria Antonieta

por Rafic Ayoub  (*)

Recentemente, uma amiga muito querida me relatou apavorada uma situação  terrivelmente não evangélica vivenciada por ela num desses conhecidos grandes supermercados de São Paulo, quando estacionava seu carro  e  repentinamente viu-se cercada  por um bando de  pessoas em  mendicância que lhe imploravam pela compra de mantimentos básicos, como arroz, feijão, óleo, etc.

Apavorada e sem saber direito  como lidar com aquela triste e insólita situação, tentou, em vão, com palavras educadas,  escapar ao cerco que se formou em torno dela, pedindo para que a deixassem dirigir-se até o  supermercado.

Porém, essa atitude serviu apenas para enfurecer as pessoas que a rodeavam que, armados com pedaços de madeira, passaram a exigir dinheiro para a sua liberação. Diante da trágica situação, ela não teve outra  alternativa a não ser a de abrir a sua bolsa e distribuir até o último centavo que trazia em sua carteira.

E como se não bastasse, depois de fazer suas compras mensais pagas através de cartão de crédito, ela teve que solicitar uma escolta dos guardas do supermercado para que a conduzissem até o seu carro  para evitar um novo constrangimento e, assim, poder voltar para casa..

Esse, queridos leitores, é o retrato real do País, num ano eleitoral tão decisivo como este de 2022, enquanto  nossos candidatos à presidência da República se perdem em tertúlias vãs ao invés de lançar soluções críticas capazes de mitigar tantas carências sociais e econômicas e, assim,  produzir uma centelha de  esperança na vida desses milhões de brasileiros vivendo hoje abaixo da linha de pobreza.

O exemplo de empresários

Recentemente, liderados pelo apresentador Luciano Huck, da TV Globo, um grupo de banqueiros e grandes empresários brasileiros e estrangeiros aqui instalados,  reconheceram a crescente gravidade do verdadeiro descalabro social e econômico vivido  pelo país.

Em um esforço de se antecipar aos fatos capazes de provocar futuros distúrbios sociais,  anunciou um aumento de doações financeiras a serem distribuídas em caráter filantrópico a essa população em situação vulnerável, que já começa a assustar e a incomodar nossa elite confortavelmente instalada em sua redoma de vidro sem se dar conta do que está ocorrendo em seu redor.

Voltando na história

Essa situação de profunda desigualdade social até agora invisível aos olhos estranhamente míopes e insensíveis  das classes  média e alta das elites  brasileiras, nos remetem à clássica situação vivida  em 1789 pelo rei  Luís XIV  quando da histórica tomada da Bastilha  pela   faminta turba de  revolucionários franceses.

E naquela oportunidade, completamente alienada da degradante realidade social e econômica em que a França encontrava-se mergulhada, a rainha Maria Antonieta, informada de que a causa da invasão de seu castelo  era a falta de pão, cunhou a infeliz frase que a levou a perder sua linda  cabeça na guilhotina: “Eles não tem pão? Então, que comam brioches!” 

A exemplo  de Maria Antonieta, depois de mais de três anos de absoluta inércia e imobilismo,  temos um governo completamente alienado da realidade social e econômica do País, marcado por uma crescente taxa de inflação, alto nível de desemprego, falta de investimentos em saúde, educação, infraestrutura, carestia de produtos básicos e, principalmente,  dos combustíveis,  que nos remete à célebre piada do humorista bêbado que entra desavisadamente num velório e põe-se a debochar do pobre defunto.

Em situação análoga, seus concorrentes, sem exceção, discutem tudo que é adjetivo, desde verbas eleitorais e viabilidade de uma terceira via a sexo dos anjos, porém, sem nenhuma preocupação  ou competência  substantiva para  apresentar um projeto político, social e econômico que contemple todas as mazelas e demandas mais prioritárias da vida nacional,  evidenciando sua incapacidade  até mesmo de focarem naquilo que realmente é importante neste triste e lamentável momento vivido pelo país.

Nas urnas, a responsabilidade

Em outubro deste ano, o Brasil estará envolto em mais uma eleição para a escolha de um novo presidente da República e a renovação de governadores, senadores, deputados federais e estaduais.

Por isso mesmo é fundamental que as futuras gerações de brasileiros tomem  em suas mãos as rédeas de seu próprio destino, sendo extremamente exigentes e rigorosos na escolha de nossos representantes nessas esferas dos poderes Executivo e Legislativo.

Devemos eleger candidatos efetivamente comprometidos com o romper das amarras que nos mantém reféns de políticos medíocres, fisiológicos e corruptos, sem qualquer identificação com as reais necessidades de mudanças e transformações tão caras e imprescindíveis ao bem-estar político, social e econômico do hoje tão carente e sofrido povo brasileiro.

Comentários e sugestões: [email protected]


(*)  Rafic Ayoub, jornalista pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e pós-graduação em Mídia, Política e Sociedade pela FESPSP – Faculdade Escola de Sociologia Política de São Paulo, é também poeta, dramaturgo e autor do recém-lançado livro  “ Miserere Nobis – Crônicas do Cotidiano”.

Atualmente é consultor especializado em Comunicação Corporativa Integrada.


Nota da Redação: O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.


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