moneyboys
por Aguinaldo Gabarrão (*)
Ao assistir as primeiras cenas do filme “Moneyboys”, fica claro porque as locações foram em Taiwan, ilha autônoma mas considerada território chinês, e não na China continental, cujo governo e sistema, certamente não aprovariam a história de Fei (Kai Ko), um rapaz gay, que sai da sua aldeia para se tornar garoto de programa na cidade.
Fei mantém um relacionamento estável com Xiaolai (J.C. Lin), e quando este último briga com um cliente do seu namorado, Fei é obrigado a fugir para outra cidade. Cinco anos depois, ele se encontra estabilizado financeiramente, mas não está feliz. Ao voltar para sua cidade de origem, ele se conecta novamente às suas raízes, mas não imagina que sua vida terá outra importante mudança.
O diretor e roteirista C.B. Yi teve como intenção primeira falar de relacionamentos, afetos e amor próprio. A personagem Fei sustenta sua família com o dinheiro obtido por ele na prostituição, deixando de lado a sua felicidade. Mas há no filme outras possibilidades de leitura.
O dinheiro como foco central
Há um vazio existencial que Fei não consegue preencher com o conforto conquistado e o dinheiro. Embora tenha deixado o ambiente rural, a ele se mantêm ligado no seu próprio apartamento, onde recebe seus clientes. Há em sua varanda belas plantas e flores que destoam completamente do restante dos outros ambientes, marcados por tons neutros e impessoais.
O espaço externo o mantém conectado àquela natureza rural e aos afetos familiares que ele valoriza. Esses sentimentos o fazem retornar a sua aldeia. Lá ele vive dois momentos tocantes: o reencontro com o avô doente e a visita ao túmulo de sua mãe, numa tentativa de desculpar-se por não estar presente em seus últimos momentos.
Mas parte da família não o perdoa pela vida que leva e a desonra que causa naquela comunidade, apesar de não recusarem a ajuda financeira. A hipocrisia pode ser comparada a própria dinâmica contraditória do Estado Chinês: o capitalismo é o mal, mas dele se alimenta.
Reencontros
Ao voltar da viagem Fei recebe a visita de Long (Yufan Bai), morador da antiga aldeia que resolve procurá-lo para ter uma vida melhor. Ele se envolve com o amigo e quando parece que o ponto de equilíbrio pode ter sido encontrado, o antigo amor reaparece.
Na vida de Fei, o passado é um ciclo que não foi superado e torna seu presente movediço. As feridas permanecem abertas e só complicam seus problemas com a família; a sensação de angústia com a brevidade da atividade de garoto de programa; um novo amor e, finalmente, sua antiga relação amorosa mal resolvida e com outros agravantes.
Trailer – clique na imagem:
São vários conflitos que, infelizmente, ficam no meio do caminho. O diretor C.B. Yi apresenta, discute, mas não escolhe qual dessas ricas possibilidades será o ponto de maior interesse para se chegar a um desfecho mais interessante.
Apesar disso, permeia no filme a ideia de que a conquista da felicidade ou daquilo que se aproxime dela, passa pela construção e manutenção de afetos, mas principalmente por saber equilibrá-los ao amor que se precisa ter por si mesmo.
Serviço
Gênero: Drama / País: Áustria, França, Bélgica, Taiwan / Classificação: não foi mencionada / Duração: 2 horas / Ano: 2021
Ficha técnica
Direção e Roteiro: C.B. Yi / Elenco: Kai Ko, Chloe Maayan, Yufan Bai, J.C. Lin, Qiheng Sun, Yan-Ze Lu, Daphne Low, Mu Chen, Teng-Hui Huang, I-Hsiung Lin / Direção de Fotografia: Jean-Louis Vialard / Montagem: Dieter Pichler / Trilha Sonora: Yun Xie-Loussignan / Produção: Gabriele Kranzelbinder, André Logie, Barbara Pichler, Guillaume de la Boulaye / Distribuição: Pandora Filmes / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
(*) Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo e de projetos. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.
Nota da Redação == O artigo acima é totalmente da responsabilidade do autor e colaborador, com suas críticas e opiniões, que podem não ser da concordância do jornal e de seus diretores.
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