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A história de São Paulo em mapa antigo quando era a Villa Forte de Piratininga

Tempo de Leitura: 6 minutos

mapa antigo

da Redação DiárioZonaNorte
  • O mapa da Villa Forte de Piratininga foi um brinde no 4º Centenário da cidade.
  • A empresa dos mapas no centro de São Paulo conseguiu um raro exemplar.
  • Santo André da Borda do Campo surgiu um ano antes da fundação de São Paulo.

Mapas registram as imagens ou desenhos de um lugar e complementam as informações do passado nos livros de história. Esse recurso já estava presente desde a pré-história, da Grécia e dos Romanos, na antiguidade. No Brasil, a história é contata a partir do Século 15, com a vinda dos descobridores em seus mapas da época e o início da colonização.

Esses mapas são documentos de nossa história e teve continuidade em registros da Villa Forte de Piratininga e que antes tinha o nome de São Paulo dos Campos de Piratininga. Após alguns anos mais tarde, veio o nome abreviado para São Paulo de Piratininga. Hoje como conhecemos uma metrópole chamada simplesmente São Paulo, que cresceu de seus 150 habitantes para mais de 13 milhões, e mantendo seu lema de brasão: “Non Ducor Duco” — “Não sou conduzido, conduzo”. — competindo com as maiores cidades do mundo, como Nova York e Tóquio.

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Mapa original da Villa Forte de Piratininga

E um grande achado está em um mapa, que é uma representação artística nas dimensões de 89 por 110 centímetros, em papel plastificado mostrando justamente a Villa Forte de Piratininga, de 1565 a 1600.  Colorido, o mapa apresenta as moradias e com os números relacionando 70 nomes de moradores junto aos caminhos internos  (ou vias, que mais tarde se transformariam em ruas, muitas que conhecemos com os mesmos nomes até hoje).

Entre os rios Anhangabaú e Tietê, surgiu o povoado daquele época com os  200 “fogos” (eram os moradores que eram contados por “fogos”, significando as residências com suas lareiras ou fogões a lenha que se alimentavam por fogo) traz um fato histórico muito importante e quase desconhecido, mas em registro em várias  Actas da Câmara de São Paulo.

Por determinação do nobre e administrador colonial português Mem de Sá, a Villa Forte de Piratininga foi fechada totalmente com cerca de tapumes para se proteger dos ataques dos índios. No local sem pedras, essa muralha foi pouco a pouco construída com pilão para amassar e socar a terra com a taipa, capim e gravetos.

A Villa de Santo André da Borda do Campo, que foi fundada depois de São Vicente e um ano antes de São Paulo,  teve em 1560 ataques indígenas e muitos moradores sairam de lá para se refugiarem no Páteo do Collégio. Não deu outra, dois anos após,  os índios vieram sitiar o Páteo do Collégio e os ataques foram espaçados durante 30 anos.

Por coincidência, relatos de historiadores dizem que em 9 de junho de 1562, aconteceu o Cerco ou Guerra de Piratininga, um ataque dos indígenas das tribos unidas dos guarulhos, guaianás e carijós. Foi uma revolta dos índios por causa da aliança do cacique Tibiriçá com os padres jesuítas. Durou um dia e os portugueses com aliados venceram os índios. Neste acontecimento o Tibiriçá matou seu irmão Piquerobi.

Daí ficou o medo. E sempre houve ameaças dos índios, que levou às cercas em toda a Villa Forte de Piratininga, que em outras palavras virou  um forte de refúgio e proteção de seus moradores da época.

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Ilustração/Nuto Sant´Anna – O Estado de S. Paulo de 25-01-1954

Segundo o historiador Bevenuto Silvério de Arruda Sant´Anna (que adotou o pseudônimo Nuto Sant´Anna — em Santana, na Zona Norte, tem um biblioteca municipal em sua homenagem), em suas pesquisas descobriu que os moradores abriam portas e recebiam advertências sob pena de pesadas multas para fechá-las. Não podia também ter chiqueiros de porcos junto aos muros. Tudo era às custas dos moradores, já que a Câmara não tinha condições financeiras.

Com o tempo e o progresso da região, os muros foram aumentando a proteção. Mais adiante, ainda no século 16, com o aumento das atuações dos Bandeirantes as ameaças dos índios diminuiram e as cercas acabaram sendo abandonadas.

O mapa reaparece no Centro Velho de São Paulo

No centro velho da cidade, na histórica Rua Capitão Salomão – ao lado do Largo Payçandú, do Viaducto Santa Ifygênia e do prédio histórico dos Correios – um baiano do interior comanda a Multimapas, em um salão do 4º andar de um antigo prédio, com mapas de aproximadamente 200 países e no geral mais de 1.000 outros do Brasil, estados, cidades e detalhes de bairros. Todo tipo de mapa geográficos, históricos e físicos, impressos em vários sistemas.

Com o modo tranquilo de baiano vindo com 20 anos  da cidade de Gentil do Ouro e depois por tempo limitado em Xique Xique, é o Sr. Aloiso F. Rocha, de 78 anos “nos ombros”, como sempre lembra, e nos mais de 50 anos no meio e envolvido com os mapas. Não é cartógrafo, mas um grande apaixonado por mapas, desde pequeno. Até que em São Paulo, montou sua empresa de começo em um espaço menor na Rua Libero Badaró e, em seguida, na Rua Antonio de Godoy, onde perdeu grande parte de seu acervo em um incêndio.

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Sr. Alosio F. Rocha, junto aos mapas antigos de São Paulo

Na verdade, o incêndio aconteceu no dia primeiro de maio de 2018 no prédio  de 24 andares em frente, que desmoronou em seguida e era ocupado por 150 famílias com pessoas sem teto. O prédio em frente, onde estava a Multimapas, foi parcialmente atingido – como também a Igreja Metodista, ao lado. Houve uma grande repercussão na época.

“Foi uma grande perda inestimável, com um grande e valioso acervo de mapas antigos e raros, e tudo que tínhamos de registros de épocas”, lamenta o Sr. Aloisio, que perdeu muitos anos de pesquisa e documentos importantes. O consolo foi selecionar e aproveitar o que era possível e passar para o terceiro endereço da empresa, onde se encontra  hoje há três anos. O Sr. Alosio estima que teve um prejuízo de 2 milhões de reais em diversos mapas impressos, documentos e mais de mil arquivos digitalizados.

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Relação de moradores e das ruas

Segundo o dono da Multimapas, o antigo mapa da Villa Forte de Piratininga foi encontrado por acaso em canto de uma banca, jogado e sem importância. E depois foi salvo do incêndio, com muita sorte.  O mapa foi encomendado pelo escritor gaúcho Baptista Pereira – uma apaixonado pela história dos primórdios de São Paulo – e produzido pelo desenhista Mertig.

Foi uma cópia com a cor predominante em cinza que restou dos 100 exemplares impressos pelo banqueiro Gastão Eduardo de Bueno Vidigal, do Banco Mercantil de São Paulo (comprado pelo Bradesco), que em 1954 mandou confeccionar o mapa como homenagem ao 4º Centenário de São Paulo. Depois  já com a supervisão da Multimarcas, que teve as participações de Robson Augusto (designer gráfico) e Ruiberdan Reis (coordenação).

E a Multimapas tem preciosidades em mapas de vários países, estados brasileiros e da cidade de São Paulo, mostrando as regiões de distritos e bairros, com detalhes. Em partes, mapas que detalham a Zona Norte ou a Sul, já que os mapas gerais devem ter uma enorme  dimensão – aqueles de parede que chegam até 6 metros quadrados.

São mapas procurados por empresas, autarquias, colégios, turistas e por outras pessoas. “Tem gente que vai viajar até para o exterior e vem aqui em busca de uma mapa da região que visitará”, observa o Sr. Aloisio — enquanto falava, uma senhora chegou em busca de uma mapa para suas férias na Ilha da Madeira.

E quando não há um mapa de alguma região, os cartógrafos da empresa podem executá-los a pedido. Outros querem mapas antigos da cidade de São Paulo ou mesmo o da Villa Forte de Piratininga, que é vendido por 50 reais. Na moldura é um belo presente e um quadro decorativo e histórico, que chama atenção até pelo desconhecimento de sua existência.


Multimapas


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