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No compasso de espera, Hospital do Mandaqui enxerga uma “luz no fim do túnel”

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da Redação DiárioZonaNorte

Uma luz veio das trevas e iluminou parcialmente o Conjunto Hospitalar do Mandaqui, na Zona Norte da cidade. Da situação caótica que enfrenta há alguns anos, agravado nos últimos meses, não se previa tanta rapidez em algumas mudanças no estado da situação – que foi lembrado por um dos conselheiros: “uma luz no fim do túnel, mesmo com muitas curvas à frente!”.

O importante de tudo é a atuação ativa do Conselho Gestor, que há alguns meses “colocou a boca no mundo”, segundo a observação do mesmo conselheiro, e acrescenta “que agora será sempre com muita publicidade, abrindo os problemas para todos saberem o que acontece, até melhoria total”.

Nesta atitude, o Conselho Gestor abriu na 4ª feira (25/07/2018) mais uma reunião ordinária (sempre na última 4ª feira do mês, às 9 horas), na sala Multiuso II do primeiro subsolo do prédio do Hospital do Mandaqui — antes com mais audiência, as reuniões aconteciam em um auditório para 200 pessoas bem acomodadas — que podem retornar com mais participações. Desta vez,  notou-se um ambiente mais leve, mais solto e mais alegre com o comparecimento de 32 pessoas, com suas várias representações.

Saída da diretora-geral

No exato momento da reunião do Conselho Gestor – no primeiro subsolo –, acontecia uma outra paralela com a administração do Hospital do Mandaqui, comandada pela Dra. Katia Soraya Barbosa Knebel, que foi oficializada naquele momento, em ofício interno da Secretaria Estadual da Saúde, como Diretora Geral interina do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, com sua provável efetivação mais à frente.

A médica substitui a sua ex- chefe Dra. Magali Vicente Proença, que na 2ª feira (23/07/2018) inesperadamente surpreendeu a todos com sua nomeação pelo prefeito Bruno Covas,  através do Diário Oficial da Cidade, para assumir o cargo de Superintendente da Autarquia Hospitalar Municipal – (ver nota no link: https://bit.ly/2JXXc1h ).

A ex-diretora geral do Hospital do Mandaqui largou mais de 10 anos de serviços na área estadual e passou para a municipal, junto ao novo Secretário da Saúde, Edson Aparecido (ex diretor-presidente da Cohab-SP) — que assumiu recentemente o posto de Wilson Pollara (ver nota no link: https://bit.ly/2OiYxTG ). Ficou consolidado uma troca de funções entre os governos do Estado e do Município, até pela cordialidade de suas relações políticas.

Reunião mantida

Com a reunião do Conselho Gestor previamente em agenda fixa para todo o ano, a direção interina do Hospital do Mandaqui pretendia adiá-la alegando “que neste momento de transição, os departamentos estão focados na elaboração de relatórios, documentos necessários para fechamentos solicitados pelos órgãos competentes”. No encontro anterior, de junho, não houve o comparecimento dos representantes da direção do Hospital do Mandaqui, o que pressionou ainda mais a manter essa nova reunião.

E o presidente do Conselho Gestor encaminhou a mensagem à Dra. Kátia Knebel: “Entendemos o momento de transição acreditando ser este o momento ideal para a Senhora e a nova equipe se apresentarem para a continuidade ou não do modelo de atendimento aos usuários.  

Ao longo dos últimos meses demos ciência dos vários problemas existentes no Conjunto Hospitalar do Mandaqui com alguns solucionados e outros sem informação; por esta razão e para o cumprimento regimental do Conselho Gestor manteremos a Reunião Ordinária, contando com sua presença e dos gerentes/diretores do Pronto Socorro Adulto, Pronto Socorro Infantil, Recursos Humanos e demais áreas”.

Nova diretora-geral apresenta-se

Diante da situação, a nova diretora geral não teve alternativa e compareceu para a abertura da reunião do Conselho Gestor, por menos de dez minutos, onde se apresentou em substituição oficialmente (ainda como interina) da Dra. Magali Vicente Proença – onde fazia parte da equipe. “O nosso interesse é sempre o mesmo, em busca de melhorias para o hospital” e pediu “um pouco de paciência”.

Muito simpática e objetiva, informou que é também moradora da Zona Norte e “também faço parte deste Conselho”. E está “tomando pé da coisa” e que precisa da colaboração de todos, “vocês são os nossos olhos e a gente tem que trabalhar em parceria”, e que preocupa-se com a saúde da população e não medirá esforços na solução dos problemas e nas melhorias. E retirou-se com parte de sua equipe para a outra reunião interna, embaixo de muitos aplausos.

Quem compareceu

Depois do momento de apreensão, o ambiente ficou mais leve e o presidente do Conselho Gestor pode dar continuidade à reunião. Foi destacada as presenças do representante da Diretoria do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Vagner Urias; Maria Regina da Costa e Silva, do Conselho Gestor do Hospital Municipal José Storópoli – Vermelhinho (Parque Novo Mundo); Irineu Esteves Cypriano Filho, do Conselho Gestor do Pronto Socorro Municipal de Santana; e Alba Medardoni, da Associação Amigos do Mirante do Jardim São Paulo e Região – entre representantes de Conselhos de Saúde e moradores.

E pela primeira vez, as presenças de representantes da  Organização Social (OS) da Santa Casa de Birigui, que substitui a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina – SPDM – que estava no controle desde novembro de 2015, quase 2,7 anos — , e agora é responsável pela Unidade de Terapia Intensiva-UTI do Hospital do Mandaqui – desde 30 de junho, que estava representada com Everton Jhon da Silva Souza, administrativo hospitalar, ao lado de duas enfermeiras.

O que se passou

Na batuta do presidente do Conselho Gestor, Marco Antonio Cabral, a reunião teve continuidade com a leitura em retrospectiva de assuntos debatidos desde fevereiro, relatados pelo conselheiro e Secretário Mário Sérgio Alencar : falta de médicos clínico geral e pediatra; falta de enfermeiros e técnicos auxiliares; muro caído há mais de um ano ainda em reforma e obra parada; estacionamento precário; retirada dos televisores das salas de espera; falta de equipamentos; falta de materiais nos centros cirúrgicos; sala de arquivos com problemas de perdas de fichas e prontuários do Pronto Socorro Adulto; mau atendimento; e outras que apareceram e foram recorrentes. <<E casos pontuais e recentes como a compra de 12 cadeiras de rodas que foram entregues, mas “que não rodam”; e o sistema de computadores que não funciona porque depende de uma placa, que custa pouco, mas o pedido está parado há meses >>

Responsabilidade do Conselho Gestor 

Cabral lembrou das ações paralelas do Conselho Gestor, como as manifestações no entorno do Hospital, até com um abraço de solidariedade, e o ingresso de denúncia no Ministério Público Estadual, protocolada em 29 de junho, incluindo a Moção de Repúdio – que foi lida rapidamente e em resumo — mais um calhamaço de documentos e ofícios sobre os problemas e irregularidades encontradas no Hospital do Mandaqui – leia a íntegra da Moção de Repúdio no link da matéria: https://bit.ly/2yUaP1m .

Mais adiante, o presidente do Conselho Gestor lembrou que tanto o profissional na área médica quanto o de enfermagem está se desgastando e com problemas na situação atual do hospital. “Alguns ficam por amor, por amor mesmo”, salienta Cabral. E acabam criando um ambiente hostil às demandas no Conselho Gestor, considerando o trabalho como inimigo. “Nada há contra os profissionais e nada é pessoal, busca-se apontar os problemas para trazer as soluções com um bem estar a todos, sem distinção”, sempre aponta o presidente Cabral.

Segundo ele, “o Conselho Gestor está do lado dos usuários e dos profissionais que trabalham no hospital, buscando sempre o que é melhor para todos”. Ele lembrou o nível que chegou ao sucateamento do hospital com o propósito camuflado para se chegar à terceirização dos serviços.

Por outro lado, foi citado por um conselheiro, um problema para conserto de elevadores, que não era feito porque o hospital não comprou as peças. O contrato foi assinado para a mão de obra e conserto, mas com a entrega do material. <<Há também o encaminhamento interno da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado Edmir Chedid, que vai estudar o caso do Hospital do Mandaqui, no começo de agosto>>.

A união com os enfermeiros

E a palavra foi passada ao diretor do Conselho Regional de Enfermagem-SP (Coren), Vagner Urias, que classificou a importância do Conselho Gestor do Hospital do Mandaqui, que mostra muito trabalho e eficiência na vigilância 24 horas do dia.

Ele fez um diagnóstico dos problemas da saúde no geral, que não tem politicas focadas em várias áreas. Às vezes tem as definições no papel, mas não na prática – que o caso até de contratos com outras intenções de serviços. Urias relacionou os problemas também na área de enfermagem.

Ele lembrou também as advertências que os profissionais da área fazem sobre as condições de trabalho e que podem prejudicar diretamente os usuários. E quem sofrem “na linha de frente” são os profissionais da enfermagem que são os mais atingidos, até com violência física. <<Mais adiante, na reunião, foi lembrado que o enfermeiro cuida de 35 leitos, quando a norma é de 12 leitos>>

Para tanto, há necessidade de juntar todas as entidades representativas para parcerias em busca de soluções e melhorias. “A gente constrói a partir do caos. E crescemos no conflito”, chamou a atenção no sentido de fortalecer as ações para corrigir os pontos negativos.

Segundo ele, o setor de enfermagem enfrenta problemas sérios, mas precisa ter união com outros setores para uma parceria mais consistente. Urias lembra da importância de todos, incluindo os usuários mais participativos, em busca de apontar situações e buscar soluções, em conjunto.

Uma OS cuida da UTI

Na bola da vez, a palavra foi passada para os representantes da  Irmandade da Santa Casa de Birigui (fundada em 1935 – 510 kms de São Paulo, próximo São José de Rio Preto) que é a OS responsável pela Unidade de Terapia Intensiva-UTI do Hospital do Mandaqui – e em várias cidades do interior.

Quem mais apresentou a entidade e explicou o funcionamento do serviço foi Everton Jhon da Silva Souza,  que é o administrativo hospitalar. E continuou a rodada de falas com os participantes da reunião, com várias questões como a exigência de um cadastro do médico ao Conselho Regional de Medicina – Cremesp; inclusão do curso de humanização no curriculum das escolas/faculdades; acompanhamento de finanças e contratos; acompanhamento do paciente pró e pós operatório; roubos internos de travesseiros, lençóis, lâmpadas, e outros; e sumiço de medicamentos que ficam reservados para os finais de semana na UTI.

O passado e o presente dos Conselhos Gestores

Na sala, uma senhora sentada no canto, humildemente fora da mesa principal, ouviu tudo com muita atenção. Dona Maria Regina da Costa e Silva, hoje do Conselho Gestor do Hospital Municipal José Storópoli – Vermelhinho (Parque Novo Mundo/Vila Maria) tem 35 anos de lutas e um grande valor histórico na saúde da Zona Norte.

Ela foi uma das precursoras e incentivadora dos Conselhos Gestores, tendo participativo como conselheira no Hospital do Mandaqui, com grandes conquistas como as melhorias no Pronto Socorro e a vinda do Centro de Referência do Idoso-Norte e as questões do antigo Plano de Atendimento à Saúde – PAS.

Dona Regina é um marco e exemplo de garra para todos os Conselhos Gestores e os de Saúde na Zona Norte, no controle social e a importância para todos.  E incentiva a luta do atual Conselho Gestor do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, que demonstra nos 15 anos de atuação como conselheiro (e agora do presidente) Marco Antonio Cabral mostra um exemplo de seriedade e determinação voluntária para os problemas diuturnos, com rodízios entre os conselheiros nas 24 horas, feriados e finais de semana.

Outro exemplo de garra é o da conselheira Cirlene Souza Machado, pequena no tamanho mas enorme na eficiência e atuação nos problemas da saúde. Em sua fala na reunião, Cirlene cobrou maior responsabilidade dos funcionários em suas taredas diárias. Caso não trabalhe direito, substitua a pessoa, pois os usuários merecem respeito. Considera que deve-se trabalhar com “amor e energia”.

E o tempo passa

Com área total de 120 mil metros quadrados, o Conjunto Hospitalar do Mandaqui integra serviços de diversas frentes assistenciais instaladas em 32 edificações, que incluem o prédio hospitalar, ambulatório, Centro de Referência do Idoso (CRI) Norte, Polo de Atenção Intensiva (PAI) em Saúde Mental da Zona Norte, unidades do SAMU e do Instituto Médico Legal, entre outros setores e serviços.

Foi construído um heliporto no topo do edifício central (ver foto), com um custo na faixa de R$ 10 milhões e que nunca foi utilizado nas emergências – apresenta rachaduras e nunca teve manutenção, no aguardo de aprovações da Prefeitura de São Paulo e Corpo de Bombeiros — mais fundamentalmente das autorizações da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) e do  Comando da Aeronáutica do Ministério da Defesa (COMAER).

Os investimentos do passado 

Somente em 27 de novembro de 2015 – há 2 anos e 7 meses – foram investidos R$ 24,2 milhões para readequação do espaço, aquisição de equipamentos e contratação de especialistas e profissionais de saúde para operacionalizar e gerenciar os 40 leitos destinados ao atendimento de casos de alta complexidade clínicos e cirúrgicos.

Naquela época,  houve a contratação de uma equipe multidisciplinar por meio de convênio com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), será composta por 48 profissionais, como médicos intensivistas, plantonistas e diaristas, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros.

Esse convênio previa uma vigência de 13 meses prorrogáveis, com a ampliação gradativa no funcionamento dos leitos da UTI adulto, e  aumento de dez unidades em funcionamento a cada 30 dias, atingido a plena capacidade no primeiro bimestre de 2016.

Tudo isto teve uma solenidade de entrega, com placa afixada na parede, com a presença do governador Geraldo Alckmin, do Secretário da Saúde, David Uip, e a Dra. Magali Proença. Tudo ficou no passado e, de lá para cá, nada mais se viu de pompa palaciana.

O que faz o Hospital Mandaqui

Ele é classificado como atendimento terciário, ou seja, presta assistência a pacientes, na maioria das especialidades, além das básicas. Portanto, as prioridades nos atendimentos do Pronto Socorro e nos Ambulatórios são observados os casos referenciados de maior complexidade.  Desta forma, alguns casos mais corriqueiros (gripe, dor de cabeça – como exemplo) devem ser atendidos em outras unidades de saúde (UBS e AMA, por exemplo).  

A população precisa ter consciência destes detalhes e não comentar inverdades. Há necessidade de verificar, antes de comentar. E, ao mesmo tempo, é importante a participação dos moradores da Zona Norte nas reuniões do Conselho Gestor e de outros Conselhos de Saúde — mas outros, como os CONSEGs e Conselhos Participativos devem participar — para levar os problemas e buscar soluções.

Somente a participação de todos mudará as gestões e os serviços. “Não fique na janela só observando, à distância, e criticando nas redes  sociais e nos grupos de WhatsApp!”, comenta um dos conselheiros.

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