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da Redação DiárioZonaNorte
  • Obra de contenção se solo será realizada em um trecho de 120 metros de              extensão,  com um custo de R$ 1,05 milhão
  • Também serão refeitas a calçada e o guarda-corpo que separa a via do córrego
  • Projeto de Parque Linear completou 17 anos, sem previsão para sair do papel

Enquanto o projeto de transformar a Avenida Nadir Dias de Figueiredo, na Vila Guilherme em um parque linear completa 17 anos empacado, nos próximos dias um trecho da via, localizado na altura do número 1.146 –  a partir da rua Professora Maria Jose? Barone Fernandes até a rua Padre Joa?o Antonio -,  receberá uma robusta obra de contenção de solo na margem direita do córrego que atravessa a avenida – no sentido da Praça dos Trotadores.

Container de apoio instalado no local onde a obra será executada

A empresa vencedora da licitação promovida pela Subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme/Vila Medeiros  foi a MACOR Engenharia, Construções e Comércio Ltda, que receberá pelo trabalho R$ 1.055.490,36 (um milhão, cinquenta e cinco mil, quatrocentos e noventa reais e trinta e seis centavos).

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Publicação do Diário Oficial da Cidade de São Paulo – 21/01/2023

De acordo com o processo – SEI Nº 6058.2022/0003083-5 -, a obra tem a extensão de 120 metros e, será executada utilizando a técnica “de contenção solo grampeado e concreto projetado” e também prevê a reconstrução do guarda corpo e calçada e, de acordo com o contrato, tem previsão de 90 dias para ser concluída.

Quando o buraco é mais embaixo

Fechar um buraco não é tão fácil quanto parece. Envolve engenharia e questões geológicas. O dicionário define geologia como a ciência que estuda a  origem, história, vida e estrutura da Terra por meio de um conjunto de terrenos, rochas e fenômenos naturais como terremotos.

Solo Grampeado

O solo grampeado é uma solução de engenharia que “melhora” o solo, permitindo a contenção e estabilização de terrenos inclinados (taludes), por meio da instalação vertical de grampos/barras de aço com pintura anticorrosiva, que funcionam como chumbadores verticais, fixados com concreto projetado ao longo da parede. Além da estabilização da área, a técnica permite que ocorra a drenagem e, desta forma, deve resolver o solapamento de solo – que causa as rachaduras na calçada e guarda corpo que margeia o córrego.

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Infográfico da execução da obra. Esta técnica foi desenvolvida pelo professor Landislau Von Rabcewicz, a partir de 1945, para avanço de escavações em túneis rochosos.
No passado um Tietê cheio de curvas

O local onde hoje é a Avenida Nadir Dias de Figueiredo fez parte dos meandros e trajetória do Rio Tiete antes da retificação (processo de  tornar o curso ou trajeto dos rios retos). Observe no mapa de  1897 o formato sinuoso dos rios Pinheiros e Tietê.

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Mapa da cidade de São Paulo – ano de 1897 – Acervo: Arquivo Público do Estado de São Paulo

Se você prestar atenção da imagem aérea da região, onde está o bico da lapiseira é o começo da área da “Vila Maria Baixa“, onde hoje é a avenida Nadir Dias de Figueiredo, observará a enorme quantidade de lagoas. Durante muitos anos, a região tinha lavras de areia usada na construção dos prédios do outro lado da marginal.

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Antiga foto aérea do local mostra a predominância das lagoas, na região de Vila Guilherme.
Anatomia do buraco

Dada as características do solo arenoso, a região é um local fértil para o surgimento de buracos. Na divisa entre Vila Guilherme e Vila Maria, por exemplo, novamente o asfalto dá sinais do surgimento de uma nova “velha” cratera. Localizada no cruzamento da Rua Paes Barreto com a Av Nadir Dias de Figueiredo, ficou aberta por dois anos  – entre 2019 e 2020 quando, em meados de setembro foi fechada por agentes da Subprefeitura de Vila Maria/Vila Guilherme/Vila Medeiros.

Na primeira foto, a cratera que ficou aberta por quase dois anos – na Rua Paes Barreto com a Avenida Nadir Figueiredo (imagem Setembro de 2020). Na segunda foto, a cratera voltando a se formar (Janeiro de 2023).

Na época, o  local  passou por duas  intervenções da Sabesp, visando captar o esgoto da rua Paes Barreto para a galeria que percorre a Avenida Nadir Dias de Figueiredo. Não será a primeira vez e nem a última que o buraco reabre, justamente pelas  tais questões geológicas, conforme nosso recente registro fotográfico.

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Na imagem de Setembro de 2020, na margem oposta da Rua Paes Barreto, a terra escorre o que causa o solapamento da via

Parque Linear Nadir Dias de Figueiredo

O esgoto sempre foi um problema social em qualquer lugar do mundo. Quando ele não é colhido e devidamente tratado gera inúmeras doenças. Na avenida Nadir Dias de Figueiredo não é diferente.

De acordo com Beto Freire, presidente da Associação dos Frequentadores do Parque da Vila Guilherme/Trote e morador da região há mais de 40 anos – a briga para solucionar a questão do esgoto naquela área é antiga.  Ele lembra que há 17 anos , um projeto para transformar a área em um parque linear foi feito pelo  urbanista e Professor Silvano  Pereira.

Beto Freire, presidente da Associação dos Frequentadores do Parque Vila Guilherme/Trote.

“Não é um córrego, é um “esgotão” que faz a divisão de Vila Maria e Vila Guilherme, bem em frente ao Parque da Vila Guilherme/Trote e “cartão postal” na entrada dos dois bairros. Esse canal  é alimentado principalmente por esgoto e água do lençol freático. A pouca água limpa que corre ali é fruto da perfuração do lençol freático por grandes obras, que para escoar a água de forma econômica “conectaram” as vertentes de água na rede fluvial (bueiros), desta forma o Valetão ganhou o status de Canal”, afirma Freire.

Sem desapropriações e melhor qualidade de vida

Ao contrário de um parque tradicional, o parque linear ou “greenway” em inglês, é uma intervenção urbanística construída ao longo de cursos d’água.

Geralmente são maiores em seu comprimento do que na sua largura – por acompanhar o trajeto de rios e córregos e estarem sempre associados à rede hídrica.  O da Av Nadir Dias de Figueiredo, por exemplo, teria cerca de 2.400 metros extensão.

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Projeto de Parque Linear

O parque linear consegue unir  áreas verdes, proteger, recuperar o ecossistema, controlar enchentes, abrigar práticas de lazer, esporte e cultura, contribuindo com alternativas não motorizadas de mobilidade urbana.  Lembramos que para a implantação de um parque linear no local, não existe a necessidade de desapropriações.

Pauta em audiências públicas e plano de metas

A despoluição do córrego e o desejo da criação de um parque linear também foi pauta nas audiências públicas municipais, que discutiram o orçamento do ano de 2013. E chegou inclusive, a constar na meta 30  do Programa de Metas do ex-prefeito Gilberto Kassab para o ano de 2007. Até agora, não saiu do papel.

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