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Prédio da UniSant´Anna, na Zona Norte, é ocupado por famílias sem moradias

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UniSant´Anna

da Redação DiárioZonaNorte

  • Ocupação ocorreu na Unidade 2 no prédio que pertencia à UniSant´Anna;
  • As famílias ocuparam pacificamente o prédio, sem tumulto ou resistência; e
  • Os cursos continuam normais sob responsabilidade de outro grupo educacional.

Após 80 anos, um novo capítulo é virado na história da Universidade Sant´Anna (UniSant´Anna), com a ocupação por famílias da Frente de Luta por Moradia (FLM) filiada ao Movimento dos Sem-Teto Lutar e Vencer (MSTLV), que há duas semanas assumiram o controle da Unidade 2 do imóvel localizado no número 305/411 da Rua Voluntários da Pátria – que à sua frente está estampada uma faixa de aviso:  ” Nenhuma mulher sem casa”, com o logotipo no fundo vermelho da FLM – enquanto filhos do ocupantes do local brincam no gramado interno.

Essas famílias dos sem-moradias assumiram os oito andares,  ao lado do antigo prédio originário da UniSant´Anna – oficialmente Instituto Santanense de Ensino Superior – localizado tradicionalmente na Unidade 1 do número 275, mais próximo da Av. Marginal, e que continua  sob nova direção e em plena atividade com os cursos, e não mais sob a coordenação dos fundadores da instituição  de ensino, a família Placucci.

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Prédio I da UniSant´Anna em atividades, com entrada pela Rua Voluntários da Pátria

Desde 30 de junho passado, uma 6ª. feira tarde da noite, depois dos cadeados quebrados, muitas famílias entraram em bloco e rapidamente foram reservar seus espaços no intuíto de uma nova moradia. Segundo os dirigentes da FLM, os ocupantes de imediato, e nos dias seguintes, realizaram a faxina no local e tiveram reuniões no auditório do prédio.

Estava consolidada mais uma ocupação na cidade de São Paulo, desta vez no bairro de Santana, na Zona Norte. O maior número de ocupações de famílias acontecem no centro da cidade, tomando conta até de antigas salas de cinema.

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Prédio 2 da UniSant´Anna que foi ocupado

Os motivos da ocupação

Em Carta Aberta publicada no dia 7 de julho, no Instagram, a FLM assume a ocupação classificando como “Cidade Casa das Mulheres”,  e informou  que “o imóvel pertencia a UniSant’Anna, universidade particular que fechou suas portas deixando um rastro de destruição social. Centenas de empregados da instituição ficaram sem salário e sem direitos. Alunos que tiveram seus estudos interrompidos” — (Nota da Redação: sem citar fontes em fatos que podem ter acontecido em 2017 – ver abaixo)

O comunicado vai além e afirma que ´´o prédio tem dívida de milhões de reais em Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), 23 anos sem pagar, devendo para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que já penhorou o imóvel´´.

Com várias fotos na mesma mídia social, com destaque as que mostram cadeiras amontoadas em salas, a FLM alega que ´´ o imóvel oferecia diversos riscos para a cidade. Desenvolvia-se ali a proliferação de pragas urbanas: como dengue, baratas, ratos e pulgas que depreciam em torno da propriedade abandonada´´.

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O outro lado se defende

Nestas publicações do FLM,  através das mídias sociais, logo houve reação de pessoas de uma Organização Não-Governamental (ONG), com a denominação de Instituto Pra Quem Precisa, que se identificam como colaboradores e voluntários, e deixaram críticas e protestos à ocupação. Segundo comentam, o instituto está  localizado naquele prédio há três anos e declaram que “temos documentos que provam que o prédio não está abandonado”.

Na página deste instituto também houve um comunicado com o título “O nosso prédio foi invadido – (…)  pessoas invadiram e estão levando móveis e famílias para lá! Alegam que o prédio estava abandonado (…) invadindo prédio particular que tem dono para se apropriar, vandalizar e furtar coisas! (…) Arrombaram nossos cadeados! Roubaram nossa câmera! Arrombaram nossos armários e mexeram nas nossas coisas (…)  Estamos indignados!”

Em outro comunicado, a entidade – que nos documentos oficiais cita a sede como sendo no endereço do prédio original (nº 01) dos cursos da UniSant´Anna, onde complementam com a informação de Bloco 1 / Sala 1S10 –  diz  que “as ações nas ruas, comunidades e asilos continuam canceladas – Infelizmente nossas ações continuam canceladas! Devido à invasão do prédio onde fica a sede do Instituto. Todas as medidas judiciais já foram tomadas e estamos aguardando a  reintegração de posse”.

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Cadeiras amontoadas segundo várias fotos publicadas no Instagram da FLM.

Contando com cerca de 100 voluntários, segundo o Instituto Pra Quem Precisa em seu perfil no site,  classifica-se “como uma organização social sem fins lucrativos, que realiza projetos visando contribuir para a redução da desigualdade social, promover o desenvolvimento humano de famílias residentes em invasões e comunidades de São Paulo, além da grande população em situação de rua”.

E ainda acrescenta que “atuam no enfrentamento à fome e a insegurança alimentar, voltada para o desenvolvimento biopsicossocial das pessoas em situação de vulnerabilidade. além de apoio à saúde mental, dependência química, recolocação profissional, estímulo à educação e formação cidadã”.  No site deste instituto, a  UniSant´Anna é citada como parceira, junto com os logotipos de 17 empresas, entre elas, Uninove, Swift, Unisa e Phytoervas.

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Prédio 1 da UniSant´Anna com entrada ao lado da Ponte das Bandeiras
Um pouco da história da UniSant´Anna

O fundador do Instituto Santanense de Ensino Superior  e também ex-reitor da Uni Sant´Anna, o professor Leonardo Placucci (1928/2020 – 92 anos), contribuiu para o desenvolvimento da verdadeira Zona Norte, desde 1932.  Ele deixou um grande legado para a educação, esporte e inclusão ao trazer a primeira instituição de ensino superior da região – inclusive incentivado e apoiando vários esportes com atletas olímpicos e o social, com bolsas de estudos.

A Uni Sant´Anna é um centro universitário privado que tem suas raízes em 1932, mas credenciada somente em 1999 credenciada como Faculdades Sant´Anna. Hoje, com a direção do Grupo Única Educacional. Segundo o site da instituição, são mais de 6 mil alunos matriculados, mais de 80 docentes em 73 cursos de graduação e 5 de pós-graduação.

Mas a UniSant´Anna entrou em crise em 2017, quando foi acusada de grave problema financeiro com funcionários, professores e alunos, chegando a paralisações e protestos na rua.  Isto ocasionou até um audiência pública com cerca de três horas, em novembro daquele ano, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ( Alesp ), comandada  na época pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL). Muitos depoimentos e promessa de encaminhamentos às autoridades da área para tomar conhecimento do problema da universidade.

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Sant´Anna em Audiência Pública na Alesp em 2017

Na Alesp, as representações de todos os envolvidos, com relatos de falta de comunicação da UniSant´Anna até a cobrança indevida de mensalidades. A universidade foi representada pela pró-reitora Maria Betânia Placucci Bari, que deu as justificativas –que chegou a propor a venda de um terreno para saldar as dívidas e a retomada da administração efetiva da entidade educacional – até com “uma gestão profissional”, o que acabou acontecendo  posteriormente com o comando de um outro grupo educacional.

E o prédio agora ocupado, que está em outro terreno próximo à UniSant´Anna –– que está em pleno funcionamento nas mãos da nova administração, desde 2018, pode ser o que deveria ter sido vendido na referência da audiência pública da Alesp. Agora, como estava sem definição, foi invadido pelo ´´povo sem moradias´´.


Nota da Redação:  O DiárioZonaNorte tentou contatos com todos os envolvidos na reportagem, mas não houve retorno, até o fechamento desta edição.


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