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Em meio a sua maior crise, torcedores da Portuguesa se mobilizam pelo tombamento do Canindé

Barcelusa
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da Redação DiárioZonaNorte 

O estádio Doutor Oswaldo Teixeira Duarte, carinhosamente chamado de Canindé, completou 46  anos e corre o risco de ser penhorado. Prestes a chegar em  um século de existência, a Portuguesa de Desportos — hoje com 98 anos –, está mergulhada na maior crise financeira de sua história.

Neste domingo (18/03/2018), antes da partida entre Portuguesa de Desportos x Clube Atlético Juventus – pela série A2 do Campeonato Paulista –, os torcedores e simpatizantes da Lusa, colheram assinaturas pedindo o tombamento do complexo do Canindé.

O início do Canindé

A  história começou com o pequeno time de imigrantes alemães, Deutsch Sportive, na década de 1940.  Quando  o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial do lado dos Aliados (liderados por Estados Unidos e Inglaterra), declarando-se contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), o  Deutsch  teve medo do confisco de seu estádio e o vendeu  para o São Paulo Futebol Clube.  Isto em  janeiro de 1944.  

O negócio foi fechado por  740 contos de réis (quatro vezes o valor pago pelo craque Leônidas da Silva). Com isso, Assim, em 1944, o São Paulo  deixou de ser sediado na Rua Dom José de Barros, 337 – onde esteve desde 1938 -, passando a ser administrador do Canindé.

Sai o Deutsch e entra o São Paulo

O Deutsch se abrasileirou  para evitar represálias e passou a se chamar Guarani e desta forma, continuou a treinar no estádio e a receber seus sócios, já que esta foi uma condição para vendê-lo para o São Paulo. 

O Canindé nunca recebeu um jogo oficial do São Paulo. Ele foi  na verdade, o primeiro Centro de Treinamento de um clube do  futebol brasileiro.  Em  27 de maio de 1955, o clube vendeu a área para um conselheiro do clube, Wadih Sadi que, em  1956, o vendeu para a Portuguesa de Desportos por Cr$ 35.000.000,00.

Ilha da Madeira

Algumas adaptações foram  iniciadas para que partidas oficiais pudessem acontecer no Canindé, entre elas a  instalação de alambrados e arquibancadas, que ainda eram de madeira, que originou o simpático apelido de  Ilha da Madeira, por ser a região cercada de lagoas e ter acesso dificultado durante as cheias.  E assim, o jogo inaugural aconteceu em novembro de 1956, com vitória do time da casa.

Projeto Arquitetônico

O projeto do Canindé, como o conhecemos hoje, leva a assinatura do arquiteto Hoover Américo Sampaio, então  professor do Mackenzie. A construção teve início nos  anos 70 e foi inaugurado em   09 de janeiro de 1972, com a partida entre Portuguesa 1 x 3 Benfica.  

O lugar recebeu o nome  de  Estádio Independência. No ano de 1979,  recebeu o nome de Doutor Oswaldo Teixeira Duarte, em homenagem ao ex-presidente  do clube, e sua capacidade foi aumentada  de 10.000 para 28.500 pessoas.

Crise Financeira

Desde  2016, o estádio do Canindé corre  o risco de deixar de ser da Associação Portuguesa de Desportos, em função de dívidas  na casa dos  R$ 200 milhões.

A área foi penhorada para o pagamento de dívidas trabalhistas que ultrapassam R$ 55 milhões, postuladas conjuntamente pelos ex-jogadores Ricardo Oliveira, Rogério Pinheiro, Tiago Barcelos, Marcus Vínicius e Rafael, por dívidas trabalhistas datadas do início dos anos 2000 e  corresponde a 42.350 metros quadrados do local, cerca de 45% do total da sede da Portuguesa.

Parte pertence ao Município

Os 60.650 metros  restante do terreno  pertencem à Prefeitura do Município de São Paulo e,  pelo andar da carruagem,  não se pode descartar a retomada dele pelo  governo municipal.

Exemplos muito próximos geograficamente a Lusa não faltam:   Clube Regatas do Tietê,  Aeródromo de Santana,  Clubes da Comunidade (CDC)   Trem das Onze (antigo Jaçanã) e  Elísio Siqueira (Freguesia do Ó).

Ações Civil e Trabalhista

O terreno do Canindé foi penhorado em duas ações distintas. Uma civil e outra trabalhista.  No processo civil movido pelos ex-dirigentes da Lusa, Carlos Alberto  Duque e Joaquim Justo dos Santos,  há o pedido de pagamento de R$ 3,3 milhões.

Os dois eram avalistas em um empréstimo feito pela Portuguesa de Desportos, junto ao Banco Luso Brasileiro no início dos anos 2000.  Os dois quitaram a dívida e ficou combinado que a  Portuguesa  os pagaria de forma parcelada.  Em 2014, na gestão Ilídio Lico o acordo deixou de ser pago.

No processo trabalhista, movido por cinco ex-atletas do clube,   o valor da dívida é de R$ 55 milhões.  Os atletas são representados pela advogada Gislaine Nunes, que chegou a fazer um acordo com a Lusa e se propôs inclusive, a trazer investidores para o projeto de construção de uma arena para a agremiação.

Novamente, a Diretoria da Portuguesa assumiu um compromisso e,  de forma irresponsável, não fez esforço para honrá-lo. Além da ação movida por Duque e os  cinco  ex-atletas, existem ainda cerca de  250  ações movidas por  ex-jogadores e ex-funcionários, tramitando na justiça.

Leilões da área

O leilão foi impugnado em 25 de outubro, pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, devido uma falha no processo.  O lance inicial era de R$ 154.296.529,68.  Um segundo leilão, ocorreu no Fórum Trabalhista da Zona Sul, porém sem nenhum interessado em arrematar a área presente.

A Portuguesa de Desportos conseguiu um acordo na justiça e como a primeira parcela – vencida em 25 de agosto – não foi paga, o juiz  Maurício Marchetti da  10ª Vara Cível do Foro Central da Capital  determinou a retomada da execução.  

Uma fonte ouvida na condição de anonimato, informou que a Portuguesa de Desportos  deixou de apresentar documentos exigidos no processo, fator que também pesou na decisão do juiz. 

No dia 06 de setembro de 2017, um terceiro leilão, desta vez  online e com lance inicial  de  R$ 157.502.115,79  também terminou sem nenhum interessado.  Até nova decisão do juiz, a venda é encerrada e poderá ou não ser remarcada uma nova tentativa.

Zona Norte se mobiliza

Muitos dos torcedores da Portuguesa de Desportos, vivem aqui, na Zona Norte de São Paulo e se mobilizam para que o complexo do Canindé seja tombado e que a história da Portuguesa possa ser preservada.  Um deles, Beto Freire, encaminhou para o Conpresp, uma carta onde expõe os motivos para o tombamento:

 Prezados membros do Conselho de Patrimônio Histórico e Cultural da cidade de São Paulo

Como é de conhecimento público a Associação Portuguesa de Desportos esta sob constante ameaça de desaparecimento de nosso cotidiano, peço gentilmente o engajamento deste egrégio conselho para que possamos preservar e manter viva a história deste clube.

A Portuguesa é único representante no Brasil que mantém a tradição da colônia Luso-Brasileiro em sua história e cotidiano, além de promover os costumes de além mar é referência cultural e turística de São Paulo. 

Em sua parte social recebeu o projeto inovador há época do Arquiteto Vilanova Artigas, seu estádio de futebol é o primeiro portal a levar a população ao mágico universo do futebol.

Preservar a Portuguesa é preservar a história e cultura de nossos descobridores, mas é também manter viva a tradição e costumes da população paulistana.

O tombamento do complexo Oswaldo Teixeira Duarte é imprescindível para que possamos desfrutar de todas atividades artísticas que há muito são rotineiras no clube e estádio, manter de pé o monumental “Canindé” que é o cartão postal da maior rodoviária da América Latina e paisagem rotineira da via urbana mais movimentada do planeta é manter de pé a história da nossa cidade. 

Que todos nós possamos desfrutar e ver essa Portuguesa que além de brilhar no esporte é marco do trabalho incansável de um povo, este mesmo povo que faz parte de nossa história, cultura, costumes, tradições e hábitos.

Beto Freire (Presidente da Associação de Amigos do Parque Vila Guilherme – Trote e Diretor do Conseg Vila Maria)”

Tombamento

Um abaixo-assinado direcionado ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) pede o tombamento do Estádio da Portuguesa.

Durante a partida entre a Portuguesa 0 e  Juventus 0, pelo Campeonato Paulista Série A2, realizado no Canindé, torcedores e simpatizantes de todas as gerações colheram mais de 500 assinaturas.   A lista deverá correr padarias e todo o comércio ligado à colônia portuguesa.

Além do abaixo-assinado, uma petição pública no Avaaz também pede o tombamento do complexo. Você pode assiná-la aqui    Também pode-se enviar um e-mail para o Conpresp  no endereço eletrônico [email protected]  , dando o seu apoio. Todo o esforço será gratificante, com pedidos e o apoio de vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores, prefeito, governador e outras autoridades.

Paralelamente, corre no Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Histórico (Condephaat),  desde outubro de 2016, um pedido de tombamento da área pelo seu valor histórico, encaminhado no ano passado por uma deputada estadual — que ainda não teve retorno.

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