baleia
<< Crítica/Cinema >> === por Aguinaldo Gabarrão (*)
Muito já se falou da volta por cima do ator Brendan Fraser. Mais conhecido por filmes como o descartável “George, O Rei da Floresta” e o blockbuster “A Múmia”, que ganhou uma trilogia e fez sucesso mundial, pouco espaço o artista encontrou para mostrar que era bem mais do que o pedaço de carne que Hollywood sempre vendeu.
Prova disso é seu trabalho no filme “Deuses e Monstros”, em 1998. Mas aquele ator talentoso foi, paradoxalmente, eclipsado por sua beleza e pelo sucesso fácil e descartável que a indústria do entretenimento lhe ofereceu.
Porém se “o sucesso e o fracasso são dois impostores”, então, ao ganhar o Oscar de Melhor Ator por seu desempenho irrepreensível em “A Baleia”, Fraser prova a impostura daqueles que o viam como estrela do passado.
Vidas sem rumo que se cruzam
O professor Charlie, preso em casa por conta de sua obesidade mórbida – ele pesa 270kg – orienta por meio virtual, seus alunos nas aulas de redação. Debilitado emocionalmente pela perda do seu companheiro e percebendo que sua saúde se deteriora rapidamente, ele busca reaproximar-se da filha adolescente e, assim, dar um sentido nobre à sua existência.
Se o resumo da história parece conduzir tudo para um dramalhão piegas, o roteiro escapa dessa trilha e direciona o enredo para um encontro de personagens sem rumo, em que sentimentos mal resolvidos se cruzam com os dilemas de Charlie e potencializam seus próprios dramas, naquele pequeno e claustrofóbico apartamento do professor.
Trailer do filme – legendado:
A Baleia
Assim, tal como o capitão Ahab de Moby Dick, que no romance original persegue a baleia ferozmente e tem seu desfecho entrelaçado ao dela, o roteiro faz, por comparação, semelhante movimento: a enfermeira, o jovem religioso, a ex-mulher e a filha se lançam ao embate com Charlie, diante de sua aparente fragilidade, sempre justificada por ele com um singelo “I’m sorry” (Me desculpe).
E cada um deles age e reage, diante da impossibilidade de compreender as razões e motivos auto destrutivos do professor. E num jogo inconsciente de espelhamento, veem nele suas próprias fragilidades, no que há de mais humano e temerário.
Também ganhador do Oscar de Maquiagem e Cabelo, com direção primorosa de Darren Aronofsky (Cisne Negro) e desempenhos emocionantes de Sadie Sink (Ellie, a filha) e Hong Chau (Liz, a enfermeira), “A Baleia” demarca o patamar de excelência em que o ator Brendan Fraser merece ser reconhecido.
SERVIÇO
A BALEIA – Título Original: The Whale
- Gênero: Drama
- País: EUA
- Classificação: 14 anos
- Duração: 1 hora e 57 minutos
- Ano: 2022
Ficha técnica
Elenco: Brendan Fraser, Sadie Sink, Hong Chau, Ty Simpkins, Samantha Morton / Diretor: Darren Aronofsky / Roteirista: Samuel D. Hunter, baseado em sua peça / Direção de Fotografia: Matthew Libatique / Maquiagem e Cabelo: Adrien Morot, Annemarie Bradley-Sherron e Judy Chin / Música: Rob Simonsen / Montagem: Andrew Weisblum / Desenho de Som: / Produção: Jeremy Dawson, Ari Handel, Darren Aronofsky / Distribuidora: California Filmes / Divulgação: Sinny Assessoria e Comunicação
Aguinaldo Gabarrão – ator e consultor de treinamento corporativo. Um eterno colaborador do DiárioZonaNorte.