Home Bem Estar Ultraprocessados: Brasil integra estudo que associa até 14% das mortes precoces

Ultraprocessados: Brasil integra estudo que associa até 14% das mortes precoces

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  • Em 2024, a produção total de alimentos industrializados no Brasil atingiu 283 milhões de toneladas, um aumento de 3,2% em comparação com o ano anterior; e
  • A indústria processou 62% do total produzido pela agropecuária brasileira.

O consumo crescente de alimentos ultraprocessados tornou-se uma ameaça silenciosa à saúde pública global. Estudos apontam que esses produtos, embora práticos e acessíveis, elevam significativamente o risco de doenças graves e morte precoce.

No Brasil e em diversos países, eles já representam parcela dominante da alimentação cotidiana. Ricos em sódio, gorduras e aditivos artificiais, afetam diretamente o funcionamento do organismo e alteram hábitos alimentares.

Novas evidências reforçam a urgência de medidas regulatórias para conter seus impactos. Pesquisadores agora defendem ações estatais mais firmes para frear esse avanço.

Um estudo internacional liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados está diretamente ligado ao crescimento do risco de morte precoce.

Os números em países

A pesquisa utilizou dados alimentares e de mortalidade de oito países — entre eles Brasil, Austrália, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México e Reino Unido — e demonstrou que, a cada 10% de aumento na ingestão desses produtos, o risco de morte prematura sobe 3%.

A análise aponta que o impacto do consumo varia de país para país, com a mortalidade atribuível a esses alimentos oscilando entre 4% e 14%.

Nos Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, onde os ultraprocessados representam mais da metade das calorias consumidas diariamente, o índice chega próximo do patamar mais alto.

Já em países como a Colômbia, onde a ingestão desses produtos é menor, o percentual de mortes relacionadas também é inferior, embora ainda significativo.

Os vários processos

Os ultraprocessados são definidos como formulações industriais feitas com substâncias extraídas de alimentos, aditivos cosméticos e pouco ou nenhum alimento in natura.

São produtos altamente palatáveis, de fácil acesso e baixo custo — como refrigerantes, embutidos, salgadinhos, biscoitos recheados, entre outros. De acordo com o pesquisador Eduardo Nilson, da Fiocruz e do Nupens/USP, esses alimentos têm baixo valor nutricional e alto teor de sódio, açúcar e gorduras prejudiciais, favorecendo o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis.

Além de aumentarem o risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e até depressão, os ultraprocessados alteram o comportamento alimentar, promovendo a substituição de refeições caseiras por opções industrializadas. Isso compromete a absorção de nutrientes e a saciedade.

“Mesmo em níveis de consumo considerados baixos, já se observa impacto relevante na saúde das populações”, afirma Nilson.

Os fatores de risco

Os autores recomendam que os governos tratem oficialmente os ultraprocessados como fatores de risco, assim como o tabaco ou o álcool. Medidas sugeridas incluem rotulagem nutricional clara, restrição da publicidade, proibição da venda em escolas, subsídios para alimentos in natura e taxação específica de produtos prejudiciais.

No Brasil, parte dessas ações foi incorporada à recente Reforma Tributária, que prevê isenção de impostos para a cesta básica e imposto seletivo sobre bebidas adoçadas.

O pesquisador Eduardo Nilson reforça que, além das medidas regulatórias, é essencial promover ambientes alimentares que estimulem escolhas saudáveis. O estudo, publicado na American Journal of Preventive Medicine, contou com instituições científicas da América, Europa e Oceania, reforçando o alerta global sobre os perigos dos ultraprocessados.


<<Com apoio de informações/fonte:Jornal da USP / Texto: Júlio Bernardes >>