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Tolstói sob nova luz: monólogo revela verdade e opressão vivida por sua esposa em 48 anos

Foto: Divulgação / Alberto Maurício
Tempo de Leitura: 4 minutos

  • O nome de batismo do russo Leon Tolstói: Lev Nikolayevich Tolstoi; era frequentador de bordéis;
  • Tolstói casou-se com Sofia Behrs, aos 34 anos.  Juntos, tiveram 13 filhos e uma relação bastante complicada.
  • Um dia antes do casamento, ele a forçou a ler seu diário, no qual relatava inúmeras relações sexuais e negócios ilícitos; e
  • Sofia foi quase uma assistente pessoal e escreveu o manuscrito de Guerra e Paz oito vezes, até torná-lo legível.

Luzes acesas, o silêncio do palco aguarda a voz que a história abafou por quase dois séculos. É Sofia Behrs Tolstói quem enfim fala – e com todas as sílabas da indignação.

O monólogo Só vendo como dói ser mulher do Tolstói, com texto de Ivan Jaf, direção de Johayne Hildefonso, atuação de Rose Abdallah e música original de André Abujamra, retorna ao Teatro Arena B3 nos dias 31 de maio e 1º de junho (sábado e domingo), às 14h30 e 17h00, para resgatar do esquecimento a mulher por trás do mito literário russo.

Leon Tolstói (1828-1910= 82 anos), autor de Guerra e Paz e Anna Karenina, é reverenciado como um dos maiores nomes da literatura ocidental. Mas o espetáculo convida o público a olhar por outra lente – a de Sofia, sua esposa durante 48 anos, cuja história foi sufocada sob o peso do machismo estrutural e da fama opressora do marido.

Foto: Divulgação / Alberto Maurício

Uma atriz no palco

Em “Só vendo como dói ser mulher do Tolstói”, uma atriz prepara-se para entrar em cena no papel de Sofia. No camarim, mistura a voz da personagem com sua voz feminista atual, indignada e revoltada com o escritor machista e abusivo.

Mistura também épocas – inícios dos séculos XX e XXI – e espaços – Rússia e Brasil. Em uma linguagem do nosso tempo, Sofia, enfim, fala. Nos bastidores da vida de um grande homem, havia mesmo uma grande mulher, mas ela foi massacrada e oprimida.

Foto: Divulgação / Alberto Maurício

“Conhecia Sofia Tolstói apenas por foto e sempre ao lado do marido Leon Tolstói, o grande romancista russo. Quando li o monólogo, foi uma mistura de sentimentos: amor por ela e choque por conhecer o outro lado de Tolstói“, observa a atriz.

E complementa: “Apesar de toda a sua genialidade, ele era um homem comum, um russo seguidor fiel dos ensinamentos do Domostroi, que, em russo, significa ‘ordem na casa’ e ‘se o marido não domar a esposa, todo lar desmorona’ !.

Rose Abdallah diz que conhece várias mulheres que ainda hoje vivenciam os mesmos conflitos que Sofia. “Talvez leve mais alguns séculos para que uma mudança concreta ocorra e que, finalmente, as mulheres tenham seu protagonismo reconhecido”, reflete a atriz.

Foto: Divulgação / Alberto Maurício
Marido foge e mulher leva culpa

Sofia foi casada com o célebre escritor russo Leon Tolstói por muitos anos, até que, no dia 28 de outubro de 1910, ele fugiu de casa e acabou morrendo dez dias depois na estação ferroviária de uma pequena vila a 300 quilômetros de distância.

A culpa sobre a morte do famoso escritor recaiu sobre Sofia, que foi considerada uma megera da qual Tolstói havia fugido e, por isso, morrera.

Foram quase 50 anos de brigas entre o escritor e a esposa. Um século de machismo estrutural, somado à imensa fama planetária e importância da obra de Tolstói, legou à Sofia o papel de megera.

No entanto, o movimento feminista vem corrigindo essa injustiça. Durante toda a relação, cada qual retratou em diários o que se passava entre eles, em detalhes. É a leitura atual desses diários que deixa clara a relação tóxica, abusiva e patriarcal do homem Leon, independentemente de seu inquestionável talento literário.

Foto: Divulgação / Alberto Maurício
A verdade revelada

É a partir do conteúdo desses diários que o dramaturgo Ivan Jaf constrói seu monólogo, dando voz a Sofia. Não uma voz contida pela repressão da mulher na Rússia do começo do século XX, sob o peso da Igreja Ortodoxa e da mão pesada do czarismo, mas um discurso com toda a verve libertária da indignação feminina atual.

Os trajes pesados do figurino de Giovanni Targa, que remetem ao severo inverno russo, são destaques na encenação. Esse detalhado de época da peça, foi indicado ao Prêmio Shell e venceu o Prêmio Fita.

O figurino por si só é um espetáculo, passando por vários séculos 18, 19 e 21 as roupas são colocadas e trocadas durante a apresentação como camadas. Como são roupas pesadas com muitos detalhes e muitos botões, a concentração é ampliada na execução. Tem uma ordem certa para vestir as peças”, explica a atriz Rose Abdallah.

No Teatro Arena B3,  no Centro Histórico da cidade, o palco não é apenas lugar de encenação — é território de justiça simbólica.

FIM DE ATO.


Ficha técnica

Autor: Ivan Jaf / Direção: Johayne Hildefonso / Idealização e atuação: Rose Abdallah/ Desenho de luz: Evelyn Silva / Visagismo e adereços: Ancelmo Salomão Saffi / Direção de arte: Giovanni Targa / Música original: André Abujamra / Cenários e figurinos:Giovanni Targa, Alessandra Miranda, Miguel Sasse e Ricardo Ferreira / Costureira: Edeneire Santos / Marcenaria: Alexandre Ramos / Fotografia: Vitor Kruter / Designer gráfico: Maurício Tavares e Inova Brand

 

Serviço:

SÓ VENDO COMO DÓI SER MULHER DO TOLSTÓI

  • Local: Teatro Arena B3  – 153 lugares
  • Endereço: Praça Antônio Prado, 48 – Centro Histórico 
  • Transporte: Linha 1-Azul / Estação São Bento
  • Data: 31/05 e 01/06/2025 (sábado e domingo)
  • Horário: 14h30 e 17 horas
  • Valores: R$ 10,00 inteira / R$ 5,00 meia
  • Ingressos/venda:  Sympla – clique aqui
  • Classificação: 14 anos
  • Duração: 65 minutos
  • Categoria: monólogo / espetáculo teatral

<<Com apoio de informações/fonte:  Lupa Comunicação / João Paulo Martins  >>