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Juros do cartão rotativo atingem 445% ao ano e pressionam mais o orçamento das famílias

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  • Taxas médias cobradas pelos bancos sobem para família e empresas

A taxa média de juros do cartão de crédito rotativo subiu para 445% ao ano em março, segundo o Banco Central (BC), refletindo uma das modalidades mais onerosas do sistema financeiro.

O aumento de 2,5 pontos percentuais (pp) no mês insere-se num contexto de alta mais ampla nas taxas de crédito livre e direcionado para famílias e empresas.

Apesar da vigência desde janeiro de 2023 de normas que limitam a cobrança de juros no rotativo, os dados mostram que os encargos ainda variam fortemente mês a mês, sem apresentar queda estrutural. A medida tem efeito apenas sobre novos financiamentos, sem alterar contratos anteriores.

Nos últimos 12 meses até março, a taxa de juros do cartão rotativo cresceu 23,7 pp para as famílias. Quando o valor mínimo da fatura não é pago, o consumidor automaticamente entra no rotativo e passa a incorrer nesses juros elevados.

Após 30 dias, os bancos são obrigados a parcelar o débito. Nessa fase, os juros do cartão parcelado subiram 0,1 pp no mês, mas acumularam queda de 9,6 pp em 12 meses, ficando em 181,1% ao ano.

No crédito livre em geral, os juros para pessoas físicas aumentaram 0,3 pp em março e 3 pp em 12 meses, totalizando 56,4% ao ano.

O cheque especial, por outro lado, apresentou queda de 8 pp no mês, mas subiu 6,1 pp no acumulado de um ano, alcançando 134,2% ao ano — valor ainda inferior ao teto regulatório de 8% ao mês (151,82% ao ano), estabelecido desde 2020.

Para empresas, o crédito livre teve alta de 0,8 pp em março e de 3,5 pp em 12 meses, resultando em uma taxa média de 24,6% ao ano. Um destaque foi o cheque especial empresarial, que registrou aumento de 9 pp, atingindo 349,2% ao ano.

O efeito saldo

O Banco Central atribuiu parte da elevação das taxas médias de juros ao chamado “efeito saldo”, ou seja, à mudança na composição das modalidades de crédito utilizadas. Esse fator foi mais relevante do que a variação direta nas taxas, conhecida como “efeito taxa”.

No crédito direcionado — com regras definidas pelo governo e foco nos setores habitacional, rural, de infraestrutura e microcrédito —, as taxas também subiram.

Quanto às pessoas físicas, a alta foi de 0,9 pp no mês e 1,6 pp em 12 meses, atingindo 11,4% ao ano. Entre as empresas, o avanço foi mais acentuado: 4,7 pp no mês e 4,9 pp em 12 meses, chegando a 18,4% ao ano.

Considerando o conjunto das operações com recursos livres e direcionados, tanto para famílias quanto para empresas, a taxa média de juros atingiu 31,3% ao ano em março — um aumento mensal de 0,9 pp e anual de 3,1 pp.

O recorde da Selic

Esse cenário acompanha o patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano — o maior patamar em 10 anos — , conforme decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

A Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) influencia o custo do crédito em geral, pois representa o valor que os bancos pagam para captar recursos. A expectativa é que a taxa básica suba para 15% até o fim de 2025, caso a inflação não ceda como esperado.

A taxa de captação dos bancos aumentou 0,8 pp no mês e 3,1 pp em 12 meses, alcançando 11,9% ao ano. Já o spread bancário — diferença entre o que o banco paga e o que cobra dos clientes — ficou em 19,4 pp, estável na comparação anual, mas com leve aumento de 0,1 pp no mês. Essa margem cobre custos operacionais, riscos, impostos e representa o lucro da instituição financeira.

Foto: Agência Brasil / EBC
O suporte aos bancos

O total de crédito concedido pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 2,7% em março, chegando a R$ 600,5 bilhões. Enquanto as concessões para pessoas físicas caíram 0,1%, as destinadas a empresas aumentaram 6,3%. O crédito direcionado caiu 4,4%, enquanto o crédito livre cresceu 3,5% no mês.

Com isso, o estoque total de crédito do SFN atingiu R$ 6,483 trilhões, um avanço de 0,6% em relação a fevereiro e de 9,9% sobre março de 2024. Para empresas, o crescimento foi de 0,5% no mês (R$ 2,455 trilhões), enquanto para famílias foi de 0,7% (R$ 4,028 trilhões).

O crédito ampliado ao setor não financeiro, que inclui recursos bancários, títulos e empréstimos externos, somou R$ 18,782 trilhões. A variação mensal foi de 0,2%, impulsionada por aumentos de 0,5% nos títulos públicos e de 1,6% nos securitizados. Os empréstimos externos, por outro lado, caíram 2%, devido à valorização do real.

Em 12 meses, o crédito ampliado cresceu 13,3%, puxado pelo aumento de 16,3% nos títulos de dívida e de 9,3% nas operações do sistema financeiro nacional.

As dívidas

A inadimplência geral se manteve estável em março, com taxa de 3,2% — 3,8% para pessoas físicas e 2,2% para jurídicas. O endividamento das famílias, medido pela relação entre dívida e renda acumulada em 12 meses, ficou em 48,2% em fevereiro, com leve recuo mensal de 0,3% e alta de 0,4% em 12 meses.

Já o comprometimento da renda — parcela da renda mensal usada para pagar dívidas — foi de 27,2%, com aumento de 0,1 pp no mês e 1,3 pp no ano. Os dados de endividamento são divulgados com defasagem, por dependerem da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE.


<<Com apoio de informações/fonte: Empresa Brasil de Comunicação – EBC /Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil >>